fbpx

Categoria: Comportamento

12.02.17

Carta Aberta aos Diretores e Artistas de “Malhação- PRO DIA NASCER FELIZ”

No dia 08/02/2017, foi ao ar uma cena de Malhação que me deixou perplexa e preocupadíssima. È lamentável que, uma novela direcionada ao público adolescente, fase essa de descobertas e aceitação do Eu, venha tratar com tanto descaso e falta de respeito um assunto tão sério.
A cena em questão era uma DR entre o casal Joana e Giovanne, protagonizado pelos atores Aline Dias e Ricardo Vianna. O conflito se dava por Giovanne estar com ciúmes da namorada pelo fato dela ter feito um ensaio para uma campanha onde estaria de biquíni. No desenrolar da cena, Joana convida o namorado para comer um churros e o mesmo, por ser atleta, alega que seu técnico não se agradaria com a ideia dele comer doce e fritura e a mesma promete que será um segredo dos dois.
Até ai tudo bem. A bizarrice da cena se dá nesse momento: Giovanne diz que só vai comer se a namorada prometer que ficará bem gorda, para que nenhum homem mexesse com ela, ao que a mesma responde da forma mais insensível possível:
“- Ah não, pra você largar de mim?“


O namorado até tenta consertar dizendo que a amaria do mesmo jeito, mas nesse momento a bala já atingiu seu alvo, a adolescente gorda que está assistindo em casa. A arte é uma das formas mais genuínas de se levar as pessoas à reflexão. A arte salva, cura depressão e é inadmissível que ela seja usada para oprimir, para desclassificar uma pessoa. Eu passei o resto da tarde e noite martelando isso na minha cabeça, fiquei pensando como esse diálogo chegou até aquela adolescente que luta diariamente, luta para que seja vista como uma pessoa normal, que luta para se sentir bem quista entre seus amigos, para que não vire chacota na escola e em casa por ter um corpo gordo. Fiquei pensando em como esse diálogo deve ter doido, como deve ter sido humilhante ouvir de seus ídolos que, um corpo gordo é recusado pela sociedade, que homem não gosta de gorda.
Sabemos que a adolescência é uma das fases mais difíceis na vida de um ser humano, é a fase de aceitação e isso pode gerar traumas, algumas vezes irreversíveis. Eu, como gorda e atriz, me senti no dever de expor o meu descontentamento perante essa situação. Espero que essa bala não tenha atingido ninguém, mas caso tenha, saibam que esse diálogo apresentado ontem em MALHAÇÃO foi um equívoco, ter um corpo gordo não a faz inferior a nenhuma outra mulher.
Espero pelo dia em que ligaremos a TV e nos deparemos com uma protagonista gorda, mas uma gorda feliz, por que as que se têm nos apresentado é uma gorda que só é feliz quando emagrece e vira a top da história. Existe gorda feliz, não sei por que ocultam isso. Chega de colocar gorda na posição de chacota e inferioridade. Na própria MALHAÇÃO, a personagem de Aline Dias é a protagonista Negra, honesta e que conquista seus sonhos através de seu esforço, e tenho certeza que muitas adolescentes negras se espelham nela. Chegou a vez da gorda ser representada com respeito e sem ser desmerecida em cena. As nossas adolescentes gordas precisam se enxergar na posição de protagonista de suas vidas.
Espero de coração que os próximos temas sejam abordados com mais cautela, porque, se esse diálogo foi uma tentativa de fazer a mulher gorda se sentir bem, vocês falharam.
Cordialmente,

 

*Texto escrito por uma telespectadora, que ao assistir  a cena, se assustou com a Gordofobia explícita em um programa voltado para adolescentes.

09.02.17

Dietas: o que ninguém te conta sobre elas

As dietas existem desde sempre, porém mais recentemente elas vêm ganhando um espaço maior.
Os motivos principais para se fazer dieta são dois:

1) controlar o peso corporal/forma física (ficar mais magra, ficar mais forte, ganhar mais peso, ter menos barriga, etc) e

2) controlar uma questão de saúde (colesterol alto, diabetes mellitus, hipertensão, etc.).
Mas o que é uma dieta?
Para a ciência da nutrição, ninguém faz uma dieta porque todo mundo tem uma dieta. Ela significa a alimentação consumida por uma pessoa. Ela é quase a mesma coisa que “alimentação”. Na ciência da nutrição dizemos: “O José tem uma dieta normoproteica”, que significa que a alimentação dele tem a quantidade normal (que ele precisa) de proteínas*.
Para o restante do planeta, fazer dieta ou estar de dieta significa fazer uma alimentação diferente, geralmente uma alimentação onde se retira parcialmente ou totalmente algum nutriente ou grupo alimentar. Por exemplo, as pessoas dizem “estou fazendo a dieta da proteína”, e nessa dieta a prioridade é comer alimentos que contenham proteínas* e não comer alimentos ou comer poucos alimentos que contenham carboidratos*. Em todo o texto eu estou falando destas dietas.
Só para exemplificar: dieta da sopa, do abacaxi, da USP, de Atkins, Dukan, da lista do pode e não pode, detox, do tipo sanguíneo, da lua, entre milhares de outras.

Qual dieta funciona mais?
Essa é uma dura verdade que eu trago: nenhuma.
Muitos estudos que comprovam eficácia de dieta, do ponto de vista de perda de peso, em sua maioria são estudos de curto tempo e/ou sob ambientes extremamente controlados. Isso porque eu nem estou citando os estudos que comprovam que elas não funcionam ou as que sequer têm algum estudo científico comprovando alguma coisa.
A título de curiosidade: de cada 100 pessoas que emagrecem fazendo uma dieta, apenas 5 delas conseguem manter o peso em até 2 anos. CINCO!
Antes que você pense “Ah, mas isso é uma questão de determinação/foco/força de vontade”, trago outra verdade: não é. E a indústria por trás das dietas adora que você pense assim, porque isso leva você a uma nova dieta (mesmo que seja a mesma, só que com outro nome).
Se as dietas apenas não funcionassem, tudo bem, afinal, se uma pessoa tentasse uma dieta para emagrecer e não emagrecesse, que mal teria, não é mesmo? Entretanto, o problema é bem maior: elas têm efeitos colaterais e riscos.

O que acontece depois delas?
As dietas ativam um mecanismo que funciona na forma de um ciclo (veja a imagem abaixo).

Nesse ciclo, a pessoa inicia se “sentindo gorda”, considerando isso um problema. Em seguida ela pensa em uma solução para esse problema. Na maioria das vezes, essa solução é uma dieta (às vezes ela não tem nome, mas algo como “nunca mais vou comer doces”, por exemplo). Nessa dieta, como já mostrei para você, ela necessariamente exclui ou limita muito algum alimento ou nutriente. Essa limitação gera automaticamente um desejo pelo proibido. Em algum momento (horas, dias, semanas ou meses) esse desejo irá ser maior que a proibição e a pessoa se revolta contra a dieta. Nesse momento a pessoa irá comer esse alimento, muitas vezes com voracidade ou escondido ou em grande quantidade. A consequência disso é a geração de uma grande sensação de culpa, e essa culpa será direcionada para corpo (“eu estou muito gorda”), que por sua vez irá levar novamente ao pensamento de dieta (“eu nunca mais vou comer isso”).
Além de todo esse sofrimento que passa batido e é encarado como normal, o que acontece é o inverso do desejado: a pessoa ganha mais peso do que tinha inicialmente. Esse vai e vem do peso, chamado de “efeito sanfona” ou “efeito ioiô” é uma das coisas mais danosas para saúde.

O queridinho do momento: o jejum intermitente.
Esse assunto é muito polêmico. Existem pessoas defensoras ferrenhas do jejum intermitente, desde pesquisadores até pessoas que o praticam.
O jejum intermitente é basicamente um método de administração da alimentação baseada em ficar alguns longos períodos em jejum. A justificativa é que isso reduziria o peso e melhoraria indicadores de saúde do corpo.
Porém, a prática pode ter alguns efeitos colaterais: dores de cabeça, irritação, queda do açúcar no sangue, deficiências vitamínicas, cansaço, etc. O mais importante deles é: ganhar o peso perdido novamente, entrando no ciclo acima novamente. Eu não considero o jejum intermitente como um cuidado, mas sim como uma atitude danosa.
Deixo algumas questões para reflexão: Qual a diferença entre fazer esse jejum intermitente e o comportamento de uma pessoa com anorexia nervosa? Por quanto tempo eu planejo fazer essa “dieta”? Como eu vou comer depois que eu parar de fazer? Se eu tivesse um filho de 4 anos, eu deixaria ele fazer essa “dieta”, em nome da sua saúde?
Minha ideia com esse post é apenas alertar você que as dietas podem ser muito tentadoras, mas igualmente perigosas!

*Todas as palavras marcadas com * se referem a nutrientes, ou seja, substâncias que existem nos alimentos, essenciais para o nosso corpo funcionar bem.

24.01.17

Revista Cada Uma – Vamos Apoiar?

Já falei aqui no blog sobre o Projeto Cada Uma (aqui), mas agora eu tenho um super convite para todos vocês, apertem o play e confiram. *_*

O Projeto Fotográfico Cada Uma prepara-se para uma ousada evolução: No dia 13 de dezembro iniciou uma campanha de financiamento coletivo, via Benfeitoria, com o objetivo de viabilizar a edição nº 1 da Revista Cada Uma – publicação que promete ser a primeira revista feminina do Brasil a divulgar em suas páginas apenas imagens sem retoques de mulheres com belezas comuns.
O Cada Uma nasceu no ano de 2015 com o intuito de questionar os padrões estéticos, fotografando mulheres reais – de maneira voluntária – que posam para retratos de nu, simples e autênticos, que registram a beleza em sua maneira mais realista e crua. “Queremos que os ensaios despertem um questionamento sobre o significado de beleza”, conta Felipe Mariano, um dos idealizadores do projeto.
Segundo Jéssica Chama, também idealizadora, a ideia surgiu ao buscar referências no segmento de retratos. “Me dei conta de que, no que se refere a ensaios de nu e sensual, as modelos retratadas seguiam padrões estéticos extremamente parecidos: mulheres magras, brancas, cabelo liso, sem estrias, nem celulites… impecáveis. Ou melhor – irreais”, explica. “Foi quando resolvemos resgatar e aplicar em nossos retratos a fotografia Documental”, completa.

Por meio de suas fotos nuas, estas mulheres dizem ao mundo que estão confortáveis com suas formas. E a mensagem tem sido ouvida. O Cada Uma já possui mais de 35.000 seguidores nas Redes Sociais. E recentemente causou polêmica ao ter um post compartilhado por mais de 14.400 vezes e visualizado por 2.244.982 pessoas.
Foi então que, inspirados pelos seguidores, os seus integrantes decidiram ir mais longe. “Os ensaios são publicados na íntegra no site e algumas fotos são escolhidas para serem divulgadas diariamente em nossos perfis nas redes sociais. O aumento do número de seguidores e o poder de alcance de nossos posts nos mostrou que estamos no caminho certo”, pontua Lívia Almeida, responsável pelo projeto editorial da Revista.
Existem dados para comprovar esta constatação. Em todo o mundo, apenas 4% das mulheres se consideram bonitas. Mas em contrapartida 80% delas concordam que toda mulher tem algo bonito em si; e desejam que a mídia retrate esta beleza. “O questionamento ao padrão de beleza vem ganhando a importância que merece e as mulheres brasileiras anseiam por uma publicação que fortaleça o empoderamento feminino, a auto-estima e autonomia sobre o próprio corpo. E estas são as premissas da Revista que objetivamos entregar para elas”, finaliza Lívia.

Eu já fiz a minha contribuição e convido todos vocês a colaborarem, com apenas 10 reais de cada um a Revista Cada Uma vira realidade e muitas outras pessoas vão entender que toda beleza tem seu valor. Para contribuir é só clicar aqui, espalhem esse post para que mais benfeitores sejam alcançados.

 

19.01.17

Saúde em Todos os Tamanhos – Health at Every Size

Muitas pessoas sofrem ao procurar serviços de saúde por terem medo de serem hostilizadas por conta do seu peso. Esse medo infelizmente é real. Isso não acontece unanimemente, mas é comum.

Em minha experiência como nutricionista há mais de 8 anos, não é raro ouvir histórias de, no mínimo, falta de sensibilidade e, no máximo, de discriminação de pessoas gordas. Essas histórias são dos mais variados profissionais, serviços particulares e públicos, com homens e mulheres, em todas as faixas etárias e no mundo todo.

Em resposta a isso, surgiu há menos de 20 anos atrás um movimento conhecido como Health at Every Size (HAES; a tradução seria algo como Saúde em Todos os Tamanhos). Os profissionais que seguem essa filosofia seguem 5 princípios básicos.

  • Abordagem inclusiva do peso: aceitar a diversidade de corpos existentes e rejeitar a idealização ou patologização de determinados tipos físicos; 
  •  Focar na melhora da saúde: olhar para a saúde de maneira ampliada (e não apenas como peso), considerando fatores tanto biológicos, psicológicos, sociais, econômico, políticos, entre outros; 
  •  Cuidar com respeito: reconhecer os preconceitos sociais existentes e trabalhar para o fim da discriminação em todos os âmbitos da sociedade; 
  •  Comer para o bem-estar: promover o comer de forma flexível, individualizada, baseada nos sinais de fome e saciedade, necessidades nutricionais e prazer, ao invés de dietas com foco em perder peso;  
  • Movimentar-se para melhorar a qualidade de vida: apoiar atividades físicas que possibilitem pessoas com quaisquer tamanhos, habilidades e interesses em participar de uma atividade que movimente o corpo de maneira prazerosa.

Esse conceito é ainda pouco popular no Brasil. Mundialmente as pessoas que trabalham sob essas diretrizes se denominam size friendly (não há uma tradução muito boa para esse termo, seria algo como amigáveis em relação ao peso/tamanho).

Aos poucos a comunidade científica vai mostrando que abordagens nessa linha produzem resultados de saúde muito bons à longo prazo.

Por exemplo, um estudo publicado em 2015 por um grupo de pesquisadores brasileiros trabalhou com 15 mulheres com obesidade*. Ao longo de 1 ano, elas se encontravam periodicamente com profissionais size friendly para melhorar o bem-estar. Ao final do estudo elas relataram estar mais fisicamente ativas, percebendo melhor seus corpos, inclusive fome e saciedade, evitando o comportamento restritivo em relação a alimentação (exemplo: preciso deixar de comer massas), entre outras melhoras. Além disso houve uma mudança discreta no peso corporal.

É realmente muito bom saber que cada vez mais profissionais da saúde (embora ainda sejam poucos aqui no Brasil) estão conhecendo a HAES e se realmente ajudando pessoas gordas a cuidar da sua saúde dignamente, sem sofrer discriminação.

Algumas dicas importantes de um profissional da saúde size friendly:
Quando precisarem de um serviço de saúde (seja nutricionista, dentista, ginecologista, etc.) procurem por um profissional que não as discrimine;

Não ache a discriminação normal – piadas/broncas sobre o seu peso, cadeiras que não suportam seu peso, culpabilização do seu peso por qualquer problema de saúde, etc.

Reclamem! Se você estiver usando um serviço do SUS (Sistema Único de Saúde) existe a ouvidoria, basta ligar para o número 136 e registrar sua reclamação (ou elogio/sugestão). Caso esteja em um serviço particular, pode usar a ouvidoria do convênio, ou mesmo fazer uma avaliação negativa em uma de suas redes sociais (ou uma positiva, caso você tenha se sentido vem).

Eu desejo que todas as pessoas que estão lendo esse texto possam ir a um serviço de saúde e se sentirem cuidadas de verdade, não importando seu tamanho ou peso!

*O termo “obesidade” foi usado quando falamos do estudo por se tratar de uma medida específica de peso e altura das mulheres que participaram da pesquisa.

10.01.17

Verão sem Neuras

Este ano o nosso #ProjetoVerãoSemNeuras deu uma evoluída básica haha, para começar eu encurtei a hashtag e o nome em si, agora vocês vão ver nas imagens apenas Verão Sem Neuras. O corte foi mesmo para focar no objetivo, que é viver o verão em sua plenitude com o corpo que temos.
Outro ponto é que depois de 4 anos apenas no Facebook, agora temos um Instagram só para a postagem das fotos é o @veraosemneuras e já tem um monte de linda por lá.

O últimos meses foram complicadinhos para mim e acabou que ainda não tinha conseguido vir contar sobre essas novidades, e convidar vocês todas para participar, é sempre muitooooooo legal ver vocês inspirando e se inspirando através do #VerãoSemNeuras.

 

O projeto #VerãoSemNeuras só existe e é sucesso nos últimos 5 anos por causa de vocês, sem vocês ele não teria a menor graça, então eu aguardo a foto de todassss para eu poder compartilhar no Instagram e no Facebook.
Precisa ser foto de biquíni? Claro que não, precisa apenas ser foto curtindo o verão da forma que você se sente confortável, o que não vale é ficar em casa passando calor.
Para quem ainda não se sente livre para curtir, eu indico que clique aqui e leia este texto que foi o motivador de tudo isso. *_*

Como está sendo este verão de vocês, já se sentem merecedora de curtir?  Espero que sim, pois este é o foco. <3