Muitas pessoas sofrem ao procurar serviços de saúde por terem medo de serem hostilizadas por conta do seu peso. Esse medo infelizmente é real. Isso não acontece unanimemente, mas é comum.
Em minha experiência como nutricionista há mais de 8 anos, não é raro ouvir histórias de, no mínimo, falta de sensibilidade e, no máximo, de discriminação de pessoas gordas. Essas histórias são dos mais variados profissionais, serviços particulares e públicos, com homens e mulheres, em todas as faixas etárias e no mundo todo.
Em resposta a isso, surgiu há menos de 20 anos atrás um movimento conhecido como Health at Every Size (HAES; a tradução seria algo como Saúde em Todos os Tamanhos). Os profissionais que seguem essa filosofia seguem 5 princípios básicos.
- Abordagem inclusiva do peso: aceitar a diversidade de corpos existentes e rejeitar a idealização ou patologização de determinados tipos físicos;
- Focar na melhora da saúde: olhar para a saúde de maneira ampliada (e não apenas como peso), considerando fatores tanto biológicos, psicológicos, sociais, econômico, políticos, entre outros;
- Cuidar com respeito: reconhecer os preconceitos sociais existentes e trabalhar para o fim da discriminação em todos os âmbitos da sociedade;
- Comer para o bem-estar: promover o comer de forma flexível, individualizada, baseada nos sinais de fome e saciedade, necessidades nutricionais e prazer, ao invés de dietas com foco em perder peso;
- Movimentar-se para melhorar a qualidade de vida: apoiar atividades físicas que possibilitem pessoas com quaisquer tamanhos, habilidades e interesses em participar de uma atividade que movimente o corpo de maneira prazerosa.
Esse conceito é ainda pouco popular no Brasil. Mundialmente as pessoas que trabalham sob essas diretrizes se denominam size friendly (não há uma tradução muito boa para esse termo, seria algo como amigáveis em relação ao peso/tamanho).
Aos poucos a comunidade científica vai mostrando que abordagens nessa linha produzem resultados de saúde muito bons à longo prazo.
Por exemplo, um estudo publicado em 2015 por um grupo de pesquisadores brasileiros trabalhou com 15 mulheres com obesidade*. Ao longo de 1 ano, elas se encontravam periodicamente com profissionais size friendly para melhorar o bem-estar. Ao final do estudo elas relataram estar mais fisicamente ativas, percebendo melhor seus corpos, inclusive fome e saciedade, evitando o comportamento restritivo em relação a alimentação (exemplo: preciso deixar de comer massas), entre outras melhoras. Além disso houve uma mudança discreta no peso corporal.
É realmente muito bom saber que cada vez mais profissionais da saúde (embora ainda sejam poucos aqui no Brasil) estão conhecendo a HAES e se realmente ajudando pessoas gordas a cuidar da sua saúde dignamente, sem sofrer discriminação.
Algumas dicas importantes de um profissional da saúde size friendly:
Quando precisarem de um serviço de saúde (seja nutricionista, dentista, ginecologista, etc.) procurem por um profissional que não as discrimine;
Não ache a discriminação normal – piadas/broncas sobre o seu peso, cadeiras que não suportam seu peso, culpabilização do seu peso por qualquer problema de saúde, etc.
Reclamem! Se você estiver usando um serviço do SUS (Sistema Único de Saúde) existe a ouvidoria, basta ligar para o número 136 e registrar sua reclamação (ou elogio/sugestão). Caso esteja em um serviço particular, pode usar a ouvidoria do convênio, ou mesmo fazer uma avaliação negativa em uma de suas redes sociais (ou uma positiva, caso você tenha se sentido vem).
Eu desejo que todas as pessoas que estão lendo esse texto possam ir a um serviço de saúde e se sentirem cuidadas de verdade, não importando seu tamanho ou peso!
*O termo “obesidade” foi usado quando falamos do estudo por se tratar de uma medida específica de peso e altura das mulheres que participaram da pesquisa.