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Tag: preconceito

04.04.18

A vida fitness vai te adoecer

Quantas vezes já te perguntaram se você estava de dieta enquanto comia uma fruta ou almoçava salada? Aposto que todo mundo já passou por isso pelo menos uma vez na vida. Essa situação mostra um pouco do problema que é a relação feita entre saúde e estilo de vida fitness, em que as pessoas colocam hábitos saudáveis como presentes só na rotina daqueles que buscam perder peso. Essa é uma atitude muito nociva, uma vez que o que o discurso fitness incentiva, na prática, é um estilo que está longe de ser saudável. A busca por saúde e hábitos equilibrados é uma necessidade biológica, e quando nós dizemos que para que ambos sejam atingidos é preciso adotar a mentalidade fitness, estamos incentivando que pessoas embarquem nesse mundo nocivo.

Saúde é o estado de bem-estar absoluto, e ser saudável significa ter um organismo equilibrado, dentro dos limites esperados para as diversas variáveis de um corpo (idade, gênero, genética, estilo de vida, local de residência). Esse equilíbrio é imprescindível e leva em conta questões como a adequação entre alimentação, exercícios, responsabilidades familiares, estudo e trabalho, uma vez que uma pessoa saudável também é aquela que conhece as necessidades específicas do seu corpo e da sua vida e mantém um estilo de vida adequado a elas.

Ser fitness é algo bem diferente, pois significa fazer parte de uma comunidade (e portanto, de uma cultura) que tem como objetivo a busca por um corpo ideal – magro e musculoso. Esse corpo é atingido com base em duas coisas: Atividades físicas regulares e dietas alimentares específicas.

Parece normal, né? Só que não é, porque esses exercícios físicos são extremos, incluindo normalmente a dor como parte do treino; e os hábitos alimentares são rígidos e limitados, normalmente fazendo parte de uma dieta insuficiente. As pessoas que optam por tentar um estilo de vida fitness são “engolidas” para dentro de uma rede em que perfis de inspiração fit compõem o cotidiano, com fotos no espelho da academia em todos os momentos do dia, dicas de dietas e pratos restritivos, incentivo a dietas como low carb, jejum intermitente e detox. O uso de lemas que incentivam a pessoa a não desistir e atingir o limite são comuns e conhecidos – “sem dor, sem ganho” é um deles.

Hoje, é praticamente impossível tentar ter uma vida ativa e saudável sem ter contato com essa mentalidade fitness, e isso é um problema principalmente porque ela coloca o corpo ideal como maior objetivo, objetivo esse que deve ser atingido a qualquer custo. Não demora muito para que as horas na academia se multipliquem, as refeições diminuam, o suplemento entre na dieta e as situações sociais que envolvem comida passem a ser evitadas.

É fácil perceber que a ideia de saúde e de mentalidade fitness são absolutamente opostas, uma vez que para ser fitness é preciso abrir mão do equilíbrio que é absolutamente necessário pra ser saudável. A mentalidade hegemônica que a gente tem hoje alia saúde à hábitos fitness, de forma que não se concebe mais que uma pessoa possa estar em busca de saúde sem estar em busca de um corpo magro. Isso gera uma legião de pessoas que saem em busca de hábitos mais benéficos e acabam acreditando que através de uma mentalidade fitness atingirão esse estado de equilíbrio, mas o que acontece é o contrário: As dietas restritivas, os períodos de jejum, o corpo levado ao limite, o desejo por um corpo que é praticamente impossível causa um declínio na saúde mental que é tido como normal para muitos de nós. Hoje, ser uma pessoa contente com seu corpo é quase um insulto, uma aberração, pois estamos sendo moldados para estarmos sempre em busca de um suposto aperfeiçoamento físico que nunca chega e sacrifica muito.

Algumas noções da mentalidade fitness são absolutamente contra intuitivas e, ainda assim, entram na mente de milhares de pessoas: Os prejuízos do pão e do leite, os benefícios de comer apenas 2 ou 3 refeições por dia, ou até mesmo de passar longos períodos em jejum absoluto.  Pessoas que estavam apenas em busca de um colesterol equilibrado e caminhadas mais frequentes passam a conviver com grupos que as fazem acreditar que isso não é suficiente, pois a saúde só vale quanto impressa no seu corpo na forma que os outros acham ser válida. Pouco importa os seus exames e hábitos, se o seu corpo não tem o formato tido como saudável, então não é suficiente.

E assim, cada um de nós tem um biótipo, uma predisposição genética pra ter certo tamanho, certa forma. As musas fitness são pessoas com metabolismos e biótipos muito específicos que, com dieta e exercícios, realmente conseguem adquirir barriga negativa e coxas separadas, mas essa é a realidade de pouquíssimas pessoas. Só que isso não é mencionado no discurso fitness, de forma que se incentiva a ideia de que quem não consegue atingir aquele corpo ideal apenas não tentou o suficiente.

O resultado é uma vida baseada em culpa e insegurança por causa de características que são genéticas, é a busca por um corpo impossível. O resultado são milhares de pessoas psicologicamente doentes, que têm corpos perfeitos e ainda assim de odeiam.

A gente precisa entender que é possível buscar saúde sem buscar o corpo perfeito, é possível ser saudável e não ser magro. É possível buscar um equilíbrio e um corpo único, que tem tudo que precisa, que funciona, que é confortável, e que não é nada parecido com os corpos do Instagram. Não dá pra jogar a saúde mental no lixo buscando um corpo que no fim do dia não vai te felicidade real.

Eu desenvolvi esse tema em um vídeo do meu canal, que você pode assistir aqui:

 


22.03.18

Gordofobia é opressão, e eu posso provar

Gordofobia – a grande maioria das pessoas que possuem acesso à televisão ou internet já teve contato com esse conceito em algum momento, mesmo que não tenha prestado atenção. O gordoativismo vem aos poucos se articulando no Brasil e adquirindo visibilidade, mas por ser um movimento ainda em construção suas reivindicações e pautas não tiveram décadas de consolidação e aperfeiçoamento, de forma que muitas das pessoas que já ouviram falar na luta dos corpos gordos não sabem exatamente quais são nossas demandas.

Isso gera aquela confusão que estamos cansados de ouvir: A ideia de que nós lutamos pelo direito de sermos considerados bonitos. Consequência disso é a frase “gordofobia não existe”, palanque daqueles partem de uma informação errada e buscam diminuir a importância política do movimento.

Gordofobia vai muito além da estética, e para auxiliar na argumentação com as pessoas que questionam sua existência, eu reuni os fatos básicos na hora de provar que essa opressão existe e é tão real quanto machismo, racismo e LGBTfobia.

Em primeiro lugar, podemos dizer que existe “opressão” quando um determinado grupo coletivo de pessoas é institucionalmente privado dos direitos básicos e constitucionais dos cidadãos, quando existe um sistema que exclui e violenta esses grupos. Isso recai na construção de hierarquias sociais, em que um grupo adquire poder sobre o outro por deter acesso os direitos que outros não têm – e que assim se tornam privilégios. Essa opressão faz uso de estigmas que desumanizam o grupo com base na palavra de autoridades que tentam justificar essas agressões. É opressão, por exemplo, não permitir que uma mulher realize aborto em vista de uma gravidez indesejada, mas não prever nenhuma punição ao homem que escolhe abandonar esse filho antes mesmo de nascer.

Dito isso, precisamos estabelecer que o conceito de gordofobia presente no senso comum realmente não preenche os “requisitos” para se tornar uma opressão, pois ela é diariamente confundida com pressão estética. Explicando: Pressão estética é a imposição social que exige das mulheres perfeição física. Ela atua no campo individual, causa sofrimento psicológico e não pode ser mensurada.

Gordofobia não tem nada a ver com pressão estética, pois é uma violência que atinge um GRUPO de pessoas e lida com restrição de direitos básicos, e não com sofrimento pessoal. Ela atinge TODAS as pessoas gordas – mesmo que se achem lindas, mesmo que não sofram por serem gordas, mesmo que nem saibam o que essa palavra significa.

 

gordofobia existe

Por que, então, gordofobia é uma opressão? Porque ela retira das pessoas o direito ao atendimento médico no SUS, a uma disputa justa por vagas de emprego, ao uso dos transportes públicos e privados, à permanência em centenas de locais de convívio social.

A opressão dos corpos gordos na saúde fica clara quando os assentos, macas, leitos, cadeiras de rodas e equipamentos dos hospitais possuem limites de peso insuficientes. Quando uma pessoa gorda é negligenciada por seus médicos, tendo em vista apenas seu peso e as doenças que não tem, e por isso não recebe acompanhamento e tratamento adequados. Quando remédios emagrecedores e cirurgias eletivas são prescritos diariamente, apesar de todos os seus absurdos efeitos colaterais, porque ser magro “vale o sacrifício”.

 

 

gordofobia existe

Também são oprimidos os corpos gordos quando sete em cada dez empresários brasileiros os discriminam em seleções de emprego, mesmo que isso seja inconstitucional. Quando precisam “compensar” sua forma com currículos extensos, porque o setor popular que mais emprega no Brasil é o que menos contrata pessoas gordas. Quando vencem a tal “meritocracia” e passam em concursos públicos, mas tem suas vagas ameaçadas por testes de aptidão que utilizam uma medida de saúde obsoleta.

Quando se trata do direito de ir, vir e permanecer, também vemos opressão aos corpos gordos. Fazem dos assentos grandes inimigos, pois ônibus, trens, aviões, salas de aula, salas de cinema, bares, restaurantes fazem questão de não comportar corpos maiores. Se precisarem utilizar o transporte público, são humilhados por catracas que entalam e geram hematomas. As pessoas em cadeiras de rodas entendem – os banheiros e portas do dia a dia não foram feitos para comportarem corpos diferentes. Enquanto pessoas de manequim 44 sentem dificuldade em escolher uma peça de roupa diante de tantas opções, aquelas que vestem 60 contam nos dedos as lojas em que conseguem achar peças que sirvam.

 

Digo com extrema sinceridade que gostaria muito que meu problema fosse apenas beleza. Gostaria muito que, ao sair de casa de manhã, a qualidade do meu look fosse a maior preocupação na minha cabeça, mas infelizmente não é. Eu estou preocupada com o preparo psicológico para a negligência médica que vou sofrer semana que vem, com as dores de assistir uma aula sentada em uma cadeira que não me cabe, com o trabalho extra que vou ter para provar ao meu chefe que não sou preguiçosa e desleixada como ele espera que eu seja, com a minha bolsa que ficará no corredor do banheiro público pois não cabe junto comigo dentro do box.

Beleza e autoestima poderiam ser os maiores problemas que pessoas gordas enfrentam, mas não são. A patologização é. A estigmatização é. A retirada dos direitos de ir, vir e permanecer; de atendimento médico decente; de possibilidade de sustento financeiro; a retirada do direito ao respeito é o nosso problema.

E não é só isso: A patologização e estigmatização dos nossos corpos é diária e ferrenha, justificada por autoridades fraudulentas, e esse assunto é longo demais para ser conversado em apenas um post – por isso eu fiz um vídeo. Eu e a Carine Martins rebatemos algumas pessoas que não acreditam na existência da gordofobia e provamos que ela existe, e precisa ser combatida.

 

 

07.12.17

Curta-Metragem “GORDA” – Canal Futura

No último dia 5 estreou no Canal Futura o curta-metragem “Gorda”, eu estava ansiosa para assistir e vir contar para vocês. Assisti ontem e adorei, já tinha inclusive certeza que seria algo positivo, pois no elenco (personagens) está a “Rainha da Desconstrução” quando o assunto é gordofobia Rachel Patrício, e ela sempre tem muito a dizer sobre o tema de uma forma muito didática e serena.

O curta “Gorda” foi dirigido por Vanessa Del Negri, tendo uma visão muito esclarecedora ele nos leva a conhecer a vivência de 5 mulheres que convivem diariamente com preconceitos devido aos seus corpos gordos.

Quero muito que todos vocês que acompanham ao blog assistam (é só clicar aqui), são 15 minutinhos com muito aprendizado, cada uma das 5 personagens dizem muitas coisas importantes e rola muita identificação com o relatos.

Eu dou um destaque maior (inclusive com essa foto linda) para a Rachel,  pois ela é uma pessoa que eu conheço virtualmente tem mais de uma década haha,  e infelizmente ela passou recentemente por uma situação péssima por conta da gordofobia, e se ela  não fosse uma pessoa super instruída em relação aos seus direitos ela poderia ter tido problemas maiores.

A gente já sabe que a nossa sociedade em geral precisa aprender que pessoas gordas são pessoas normais, que precisamos de estruturas físicas com acessibilidade para os nossos corpos e precisamos muito que parem de nos julgar nossa capacidade apenas pelo nosso tamanho. E são iniciativas como este curta-metragem que tem o poder de levar essa mensagem a pessoas que nunca sequer pensaram sobre o tema, levam  também para outras pessoas gordas a mensagem que nosso corpo não é errado e isso é muito importante.

 

Não deixem de assistir e divulgar este trabalho maravilhoso. *_*

30.11.17

Blogueira Plus Size é alvo de críticas ao estrelar campanha de moda Fitness

A blogueira plus size Anna O’Brien compartilha muito da sua vida e hábitos no insta gram @glitterandlazers, por lá ela sempre posta fotos relacionadas a esportes e muitos looks maravilhosos, é bem claro para quem a acompanha o quanto ela é ativa neste sentido.

Merecidamente ela foi convidada para ser a modelo da linha BCG da Academy, que tem como foco oferecer moda fitness para mulheres gordas.

“As pessoas deveriam ter vergonha de ser gordas, e não orgulho!”, escreveu um consumidor (ou hater) após ver as fotos dela divulgada nas redes sociais da marca.

E a empresa se manifestou em defesa da modelo, confiram o que eles responderam: “Olá, James. Na Academy, nós acreditamos que toda mulher deve ter a mesma oportunidade de aproveitar esportes e a vida ao ar livre. Por causa disso, nós continuaremos representando diferentes tipos de corpos. Nós somos diferentes, mas o nosso acesso a um estilo de vida ativo não deveria ser“.

Na nossa sociedade é muito comum vermos julgamentos aos gordos por não se exercitarem, mas por outro lado esbarramos na dificuldade de boas opções de roupas para a realização de atividades físicas.
Já comentei algumas vezes por aqui o quanto é comum empresas plus size evitarem usar a imagem de mulheres gordas, mas a Academy não apenas utilizou uma mulher maior em fotos como deixou claro na resposta que tem um ideal de inclusão mesmo para todos os corpos.

É lindo de ver uma marca sair em defesa da modelo, e não apenas contratar uma modelo menor na próxima vez.

Vamos torcer para as marcas daqui também se posicionarem mais contra a gordofobia e os preconceitos em geral? Não custa sonhar, espero que esse dia chegue logo.

31.10.17

O que é Gordofobia? Assistam e divulguem!

O tema gordofobia ainda gera muitas dúvidas, inclusive entre os gordos, não é fácil mesmo entender algo que ainda é muito pouco falado. Mas eu acredito que os vídeos abaixo podem resolver essa questão. Afinal, o que é gordofobia?

A Rachel Patrício participou de um bate papo do canal Comum no youtube, e abordou o tema de forma tranquila e muito detalhada, convido todos vocês a darem play nos vídeos agora mesmo.

A militância anti-gordofobia ainda é muito fraca (pequena e recente) se comparada a outras causas. Por isso, eu peço a quem curtir esses vídeos que divulguem aos seus amigos, só com a divulgação de bons conteúdos que vamos alcançar outras pessoas para participarem ativamente com a gente.

Aqui no blog temos também um FAQ sobre Gordofobia que merece ser lido e espalhado (clica aqui).

Mas mesmo com tanta informação, eu sei que ainda pode existir alguma dúvida. Quer saber mais alguma coisa? Quer falar algo sobre o tema?

Usem os comentários para tirar todas as dúvidas e fazer observações sobre o tema.