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30.11.09

Totalmente fora dos Padões

MULHER, NEGRA, OBESA e POBRE = Precious e sua Solidão

Claireece Precious Jones é uma adolescente negra do Harlem. Como todas as meninas da sua idade, ela sonha com amor, fama, reconhecimento. A realidade, porém, é que Precious é pobre, semianalfabeta, obesa mórbida. Em casa, é assediada moral e fisicamente pela mãe e sexualmente pelo pai, de quem já está grávida do segundo filho. Ela também é soropositiva. Molestada nas ruas, vítima de bulliyng na escola, ela é, naturalmente, muito, muito infeliz, graças a um mundo muito, muito injusto. Sua solidão é brutal. Seu nome do meio, Precious, pelo qual é chamada, é de uma ironia a toda prova, já que nem quem a cerca não vê nela qualquer valor. Ela mesma não vê.

O filme, baseado em um romance, foi aplaudido de pé durante 15 minutos depois de sua exibição em Cannes, em maio. Há quem diga que foi o recorde do famoso festival. No começo do ano ganhou três prêmios no Sundance Festival. Também foi premiado em Toronto e está cotado pro Oscar do ano que vem. A estreia no Brasil está prevista para a segunda semana de janeiro.

Precious está no subsolo na escala de valores do mundo contemporâneo

Guardadas as devidas proporções, a personagem Precious me lembra a Celie de Whoopi Goldberg em A Cor Púrpura – mulher, negra, pobre e igualmente abusada. Alguém com a autoestima no fundo do poço, que cobre a boca quando sorri, como se não tivesse direito a isso. Precious está no subsolo na escala de valores do mundo contemporâneo: não é homem, não tem dinheiro, não é branca, não é magra, não é bonita. Tem juventude, é verdade. Mas isso não vale nada perto de todo o resto.

Precious, dizem as críticas, é bem produzido, bem dirigido e tem atuações fantásticas – a mais comentada é da atriz comediante Monique, no papel da mãe de Precious, um trabalho totalmente diferente do usual, e que deve levá-la a uma indicação ao Oscar. Gabourey Sidibe, de 26 anos, vive a protagonista. É seu primeiro trabalho como atriz. Também no elenco, os astros Mariah Carey e Lenny Kravitz.

O diretor, Lee Daniels, diz que, a partir deste filme, descobriu que, apesar de negro, é racista. Sempre tive preconceito contra pessoas que são mais negras do que eu. Quando eu era jovem, frequentava uma igreja em que quanto mais clara era a pessoa, mais perto ela podia ficar do altar. E entre elas nunca estava alguém tão pesado quanto Precious. Eu achava os gordos sujos e idiotas. Fazer este filme mudou meu coração. Nunca mais olharei uma menina negra ou gorda andando pela rua da mesma maneira”, afirmou, em entrevista ao New York Times.

A crítica da revista Variety afirmou que Precious é “como um diamante — claro, brilhante, mas muito duro”. O jornal britânico Times pergunta se os americanos estão preparados para assistir a este filme. Eu já me pergunto se o mundo inteiro está.

1 comentário // Deixe o seu!

  • Tamara Takaoka says:

    >Estou ansiosa demais pelo filme, mas gostaria ainda de ler o livro, infelizmente não há tradução para o português e com o meu inglês não sei se dou conta e mesmo que der levo muito tempo… Mas desde que li esse comentário, estou precisando muito saber mais: http://newyorkibe.blogspot.com/2009/10/push-precious-push-estante-de.html

    O autor do blog, vive em NY e agora já viu o filme também, mas parece que realmente a adaptação deixa a desejar…

    De qualquer forma é muito bom ver isso em discussão em todo lugar, é por aí que as mentalidades começam a mudar.

    Imagina que revolução não seria se Mo'Nique ganhasse um Oscar! E sem ser comédia! (não que ela não deva fazer comédia nunca, já que é engraçadissima, mas gorda não pode ser sempre a amiga engraçada!)

    Por enquanto continuamos esperando pelo filme, e que seu sucesso motive a discução e a tradução do livro.

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