Dia desses encontrei pelo Facebook um texto muito claro sobre uma relação abusiva de uma mãe com a filha gorda. Nele a autora relatava coisas que eu também passei e infelizmente acredito que muitas de vocês também vivenciaram. Por isso, eu pedi a ela autorização e reproduzo abaixo na íntegra para vocês.
Depois do aparecimento da Jout Jout na internet, muito se ouviu falar sobre relacionamentos abusivos.
E quando ouvimos falar em relacionamento abusivo, logo, associamos a um casal, seja ele hetero, gay ou lésbico.
Mas hoje, eu venho falar sobre um outro tipo de relacionamento abusivo, aquele que eu sofri com a minha mãe.
Minha mãe sempre foi muito vaidosa e sempre cobrou de mim uma vaidade que eu nunca tive.
Colocou o meu primeiro brinco nos meus primeiros dias de vida e já haviam vários vestidos me esperando, muito antes de eu nascer. Até aí tudo bem, Não é nada novo ouvir uma mãe dizendo que sonha em ter uma filha mulher para poder arrumá-la, encher de lacinhos, e roupinhas cor-de-rosa. Insira aqui um gif qualquer de uma pessoa qualquer revirando os olhos.
O grande problema dessa história toda, é que eu nunca fui uma garota muito vaidosa, na verdade eu só queria ser criança, brincar sem me preocupar em sujar o vestido (na verdade eu queria mesmo era não ter que usar vestido) e ser uma criança normal. Não fui.
Senta direito.
Cruza essas pernas.
Não fica correndo.
Não tira o lacinho.
Arruma o cabelo.
Retoca a maquiagem.
Etcétera.
Não era muito diferente com as minhas amigas, não fui a diferetona, única, exclusiva, a sofredora do rolê, não!
TODAS AS MINHAS AMIGAS TAMBÉM SOFRIAM.
Alá o machismo aqui o tempo todo, só você não viu.
Meus primos, homens, tinha tanta liberdade, podiam brincar sem sentir culpa.
Ai, que inveja.
E foi assim até a minha adolescência.
Após os 14 anos eu comecei a engordar e não demorou muito pra minha mãe aparecer com inúmeras cobranças em relação ao meu corpo.
Você está imensa.
Precisa emagrecer.
Olha lá a Júlia tão magrinha.
Você precisa ser igual a ela.
Filha minha não vai ser uma porca gorda.
E tudo aquilo me machucava muito.
Aquilo era eu.
Eu não era uma porca.
Era gorda, sim.
Mas era eu.
E quando alguém me zoava no colégio, eu tinha que chorar sozinha em casa, porque não tinha uma mãe para desabafar.
Aos 18 anos eu estava vinte quilos acima do maldito peso ideal.
Ideal pra quem? Caralho!
Minha mãe já estava louca, toda semana me levava para um tratamento novo.
Mesoterapia.
Manthus.
Eletrolipoforese.
Termoterapia.
Lipocavitação.
Endermoterapia.
Criolipólise
E outros milhares que eu já nem lembro o nome.
Certo dia, após uma pesagem na sala da nutricionista, e a descoberta de que eu não havia emagrecimento nenhuma grama, minha mãe berrou em alto e bom som:
GORDA DESSE JEITO, QUAL HOMEM VAI TE QUERER?
Foi quase um tiro no peito.
Fiquei horrorizada.
Ainda lembro do sorriso amarelo da nutricionista tentando disfarçar o constrangimento e dizendo com os olhos: “não liga para o que ela está dizendo”.
Mas eu ligava.
Tanto ligava que desabei em choro.
Pensei que ouviria um pedido de desculpas, mas ela foi ainda mais cruel, me puxou pelo braço e disse:
– Vamos embora, eu desisto de você.
Anos depois me vi retratada no filme MINHA MÃE É UMA PEÇA.
Claramente eu era a Marcelina e a minha mãe era a Dona Hermínia.
Aos 20 anos, conheci uma garota e me apaixonei por ela.
Passei a entender a minha sexualidade.
Começamos a namorar e não demorou muito pra eu sair de casa pra morarmos juntas.
Descobri que eu sofria de ansiedade e toda a ansiedade era decorrente do estresse que eu sofria morando com a minha mãe.
Depois de muitos anos sem conseguir dizer absolutamente nada pra minha mãe, eu resolvi escrever uma carta.
E no fim dela, após ter desabafado sobre tudo o que eu precisava, eu disse:
Um dia você me perguntou “qual homem que iria me querer?”, e hoje, eu posso te responder que SOU EU é que não quero nenhum deles.
POR: Pâmela Tolezano
https://twitter.com/PamelaTolezano
Quem já passou por isso, quem está passando por isso, espero que entendam que o erro não é com a gente. O erro está na sociedade como um todo, infelizmente isso inclui as mães, que em uma tentativa de “proteção” se tornam abusivas e agem com gordofobia.
Mas eu acredito em dias melhores, esses dias estão chegando e os filhos da nossa geração já não vão sofrer tanto (assim espero) com a gordofobia familiar.
E vocês já passaram por coisa parecida? Contem-nos aqui nos comentários.