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01.04.14

O verdadeiro culpado.

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“Segundo pesquisa do IPEA 65% de um total de 3.810 pessoas ouvidas disseram concordar que mulher que mostra o corpo merece ser atacada”.

Você já leu muito sobre isso, certo?

A minha primeira reação foi não acreditar que estava lendo esse absurdo, depois foi tentar entender o que essa pesquisa quis mostrar e daí percebi uma coisa mais simples de ser compreendida:

Mas que pesquisa é essa? Assim, à toa? Saímos à rua perguntando a pessoas aleatórias o que acham sobre o estupro?

Isso não deveria nem ser cogitado como pauta para pesquisa. Qual será a próxima? Você acha que as pessoas devem ser assassinadas? Negra que não alisa o cabelo deve ser alvo de racismo? Gordo que não emagrece deve ser hostilizado?

Pelo amor de Deus.

O estupro é crime e qualquer forma de violação dos direitos também é, isso inclui aquele beijo roubado na balada ou aquela passadinha de mão que rola em coletivos lotados. Pesquisar o que as pessoas acham sobre o crime deve ser considerado crime também, pois no mínimo caracteriza uma incitação ao mesmo. Um cara doente que sempre pensou em fazer isso, mas nunca teve coragem, no mínino se sentirá defendido pela pesquisa, já que isso não é uma doença dele e sim culpa da mulher que sai com pouca roupa de casa.

Essa pesquisa infeliz não me representa e garanto que nem a você. Outro ponto importante que devemos lembra que esse percentual não representa o Brasil, já que a pesquisa foi feita com 3 mil pessoas em média. E quem são essas pessoas? Isso é mesmo confiável? Eu, particularmente, nunca fui entrevistada por nenhum instituto de pesquisa, você já?

Meninas levantem a cabeça, não vamos deixar que esse tipo de informação altere nossas vidas negativamente e nem que nos diminua.

Somos mais fortes que uma pesquisa!

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Camila Duarte

 

4 Comentários // Deixe o seu!

  • Nádia says:

    Camila,

    Deixar de trazer esse assunto ao conhecimento do público não vai fazer com que o problema desapareça. Essas pesquisas são sim importantes para trazer o tema para o debate público: na escola, no trabalho, na rua, no jornal, no Congresso… A violência doméstica, por exemplo, sempre existiu, mas só se começou a pensar em políticas públicas para lidar com o problema a partir do momento em que houve espaço na sociedade para FALAR a respeito – em novelas, nos jornais etc. Ou você acha que a Lei Maria da Penha teria saído caso não houvesse o escancaramento do problema? Deixar de falar é como negar a existência de uma questão – e negar também o direito daqueles que são violentados de expor essa violência.
    Nós vivemos em sociedade e discutir os problemas dela tem que ser uma realidade para todos – mesmo que doa, aliás, principalmente se doer. Não podemos retroceder. É só assim, tocando na ferida, que vamos conseguir – espero eu – um dia conseguir conscientizar as pessoas. A cultura do estupro apenas começou a ser questionada. Não podemos parar isso agora.

  • Camila Duarte says:

    Nadia,boa noite!
    Existem pontos e pontos, questoes e questoes que envolvem esse assunto.
    Vamos la!
    Quem sao as pessoas que representam o Brasil nesta pesquisa? Voce ja se informou? Nao? Ok.
    Sao 3.810 pessoas para ser mais exata. Dentre elas a maioria e mulher, mais velhas, de classe media baixa.
    Com esse perfil, podemos continuar a conversa.
    Se eu chegar para uma idosa, e perguntar: Minha senhora,se uma mulher usa roupa muito curta, um homem ira olhar com maudade para ela? O que voce pensa que seria a resposta? Claro que sim.
    Essa pesquisa foi baseadas em perguntas aleatorias que depois de um estudo viraram estatistica.
    Nao estou dizendo que o padrao e ou nao confiavel, mas sim que 3 mil pessoas nao representam o pais e que um assunto serio desse pode ser tratado apenas por uma pequena parcela! E sobre a Lei Maria da Penha, acho que voce sabe tanto quanto eu que foi criada por fatos e nao por pesquisas! Meu questionamento nao e sobre o assunto e sim pelo tom da pesquisa! O assunto pode e deve ser abordado sempre, mas o tom nao deve deixar duvidas que a culpa nao e da vitima! Percebe a diferença? (Desculpe nao estar devidamente acentuado, estou no celular)

  • Nádia says:

    Camila,

    Pelo tom da sua resposta já deu pra perceber que sua postura não é exatamente aberta ao debate. Infelizmente. Mostra também que você não sabe como pesquisas são feitas. Aliás acho que não entendeu o resultado da pesquisa. Ela só mostra que vivemos numa sociedade machista e violenta, onde inclusive mulheres são machistas. Não vou entrar numas de discutir como se faz amostragem em pesquisa, mas essa nem é a questão mais importante aqui. Pela sua resposta e por coisas que andei lendo em outros blogs, estão acusando a pesquisa de dar resultados distorcidos, como se ela tivesse sido feita para legitimar a volência contra a mulher – quando o ponto é justamente o oposto! É provar que em pleno século XXI as mulheres ainda são vistas, pelos preconceituosos, como seres inferiores. Ela não afirmou que somos inferiores, quem afirmou foram as pessoas que responderam e infelizmente é assim que muita gente pensa no país, caso contrário não teríamos que lutar diariamente por nossos direitos!!!

    Pra que serve esse tipo de pesquisa? Bem, uma das razões é: só se encontra soluções para aquilo que existe, portanto, se uma sociedade nega que exista violência, nada será feito para contê-la! Precisamos entender como e por quê algumas pessoas pensam daquela maneira. Isso não é óbvio?!?! Em nenhum momento a pesquisa afirmou que “mulheres acham que devem ser estupradas”, ninguém em sã consciência vai dizer “eu mereço ser estuprada por causa do que visto”. Não. Só que além de machista, a sociedade – homens e mulheres – é hipócrita – ninguém nunca acha que a filha ou a amiga merece ser estuprada, mas se for uma completa desconhecida, muitos vão apontar o dedo e julgar sem titubear: “aquela vagabunda de mini-saia? Lógico que mereceu”. São dois pesos e duas medidas. Ninguém para pra pensar que a menina de mini saia é uma filha, uma amiga, enfim, um ser humano que como todos os outros merece respeito, independente de sua conduta pessoal.
    O que estou tentando fazê-la pensar a respeito é que a pesquisa é mais uma denúncia de um estado de coisas do que uma “farsa montada pelo Ipea para afirmar que as mulheres acreditam que mereçam ser estupradas e que se subordinam ao homem”. Sério, alguém gastou um pouco de tempo refletindo antes de dizer tanta bobagem?? O resultado é triste e vergonhoso, e deveríamos usá-lo como argumento para denunciar e lutar contra o machismo e preconceito que existem nesse país! De novo: nós vivemos sim numa sociedade violenta e machista, não adianta tapar o sol com a peneira. E se quisermos mudar isso, precisamos primeiro de argumentos, e um deles é esse tipo de pesquisa, que ABRA OS OLHOS DO POVO PARA OS PROBLEMAS QUE VIVEMOS. Calar sobe isso não vai ajudar, não vai fazer com wue os preconceituosos desapareçam nem vai mudar os valores deles! Do mesmo jeito que você acha pouco 3 mil e poucas pessoas para generalizar para um país inteiro, e que por isso não se pode afirmar que todos pensam assim, tudo bem, concordo em parte com você. Mas você conhece todas as pessoas que vivem no país e sabe a opinião e os valores de todos?? Não. Você pode afirmar, em nome de todos, que ninguém pensa daquela maneira? Como faria isso? Nã, você não pode. O que você não percebeu, Camila, é que essa pesquisa não nos representa, sabe por quê? Porque nós somos a minoria – não em números, mas em direitos. Nós, que temos consciência de que somos vítimas da tirania dos mais poderosos, somos a minoria que acredita que roupa não demonstra caráter, lutando para que a maioria nos respeite e conviva conosco sem nos trucidar.

    Eu tenho várias críticas sobre como pesquisas são feitas. Sim, eu sei que muitas carregam o viés do pesquisador, mas quando elas são feitas de maneira séria, não são só uma lista de perguntas aleatórias, sem sentido. Eu sou cientista social, feminista, gorda, que já foi atacada na rua por um fdp que achou que “eu estava querendo” porque estava de mini-saia. Não fui estuprada, graças a Deus, mas esse não foi o único episódio de abuso que sofri. E estou arrancando os cabelos porque não consigo entender como algumas pessoas não enxergam a importância de uma pesquisa como essas: ela prova que nós somos vítimas de uma cultura do estupro que infelizmente tem o poder de convencer inclusive mulheres de que a culpa é da mulher!!! O ponto é exatamente esse, é isso que quer provar: a pesquisa não diz que a culpa é da mulher, mas que o machismo tem tanta força que acaba fazendo com que as possíveis vítimas acreditem que a culpa é delas! Não tá claro isso??

    Uma coisa mais precisa ficar clara: eu não estou atacando você como pessoa, entende? Estou debatendo a ideia aqui. Então não precisa ficar tão na defensiva, ok? Pode acreditar, nós estamos do mesmo lado nisso. Também fiquei indignada com a pesquisa, mas não por ela ter sido feita, mas pela triste realidade que ela mostra.

  • Nádia says:

    Ah, mais uma coisa: a resposta da senhora de que o homem olha com maldade para uma mulher com roupa curta ou decote é sim sabe por quê? Porque grande parte, senão a maioria, olha.

    E se ela concorda com o “direito” do cara a olhar com maldade, ou seja, se ela acha mesmo que a vítima tem culpa, “merece”, bom, guess what? Ela concorda porque é machista e é ESSE O PONTO DA PESQUISA! Provar que grande parte da socieade, mesmo as mulheres que podem ser vítimas, são machistas. Isso não quer dizer que ela ache que ela própria mereça (como tem gente pensando), mas o simples fato dela achar que outra mulher sim, prova o ponto.

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