Minhas filhas, vocês que estão aí morrendo de lipoescultura, enchendo a cara de sibutramina, fazendo carta pra “Ana e Mia”, recusando a sobremesa, fedendo a vômito, estragando a patela nas horas de exercício, dando dinheiro pras piranhas dos shakes, pras revistas de dieta, minhas amigas. Vejam bem. É difícil não conseguir entrar numa calça 38. Ou 40. Ou 44. Quando é 46, é dramático. Mas vem cá. E daí?
Quando “as amigas” dão conselhos ou te olham de cima a baixo, simpáticas, jurando que te adoram, dá pra sentir isso mesmo? Quando gente que “está bem pra caramba” solta aquele olhar de reprovação, gente. Olha a cara de merda desse povo.
Quando seus namorados, maridos, ex-s, quando esses homens maravilhosos dizem que você está com banha sobrando, quando eles reprovam seus gostos e suas formas, antes de sair correndo com vontade de chorar e de não comer nada nunca mais, já parou pra examinar a figura? Os modos, a barriga se pronunciando rotunda e irreversível, os cabelos caindo, a pele manchada, as roupas que pelamordedeus –se você não desse um toque, o cara sairia na rua parecendo uma versão humana do fim do mundo. Desastre após desastre, pelanca após pelanca, o churrasco e a cerveja se garantem ali, naquelas figuras, e são proibidos a nós, as gorda, LES GORDE.
Quando as lojas expõem nas araras montanhas de roupas de tamanho 36 e 38, quando juram que aquelas modelagens de rato que vendem correspondem ao padrão, quando mal dá pra entrar numa bata fabricada sob a simpática etiqueta “TAMANHOS ESPECIAIS PARA BALOFAS DE ESTILO”, por que continuamos olhando? Por que compramos essas porcarias e insistimos em caber nessas capas de botijão de gás? Por que estamos pagando pra sermos humilhadas? Pra resistir à tentação de passar no Burger King depois? Que seja. Mas não resistimos. Vamos pras radicalices, pras cirurgias, sibutraminas, aceitamos a morte como forma de emagrecimento rápida, aceitamos a diarreia do Xenical em troca de onion rings. Olhamos as modelos esquálidas e achamos que é assim mesmo, “que é assim mesmo”, e que o mundo não foi feito pra nós. Somos admoestadas por endocrinologistas obesos, por cardiologistas fumantes, por companheiros que preferem o fedor do vômito à flacidez da banha. E, olha, se preferem, que bom. Mas não somos obrigadas a concordar.
Revistas femininas, pautadas por dietas, roupas impossíveis, “como ter orgasmos”, “como casar” e bolo de chocolate de caneca, não mereciam mais a nossa atenção –nem o nosso dinheiro. É fácil até pros ginecologistas de programa de auditório entender que a anorgasmia deve ter uma relação bem próxima com o desconforto físico. Não tem como alguém sentir prazer num corpo do qual sente vergonha. Vender receitas de bolo de chocolate e coquetel de camarão entremeadas por anúncios de shakes emagrecedores e matérias sobre lipossucção é quase tão escroto quanto apontarem sua barriga por trás de uma temível bola de basquete recoberta de pêlos. Você já viu essa imagem. Você sabe.
Vamos tentar comer salada e fazer caminhadas, mas de forma menos infeliz e forçada? Vamos largar esse monte de lixo que nos empurram dia a dia? Vamos abandonar a “obrigação” de cuidar de TUDO sozinhas, a “obrigação” de dar conta de TUDO + a “obrigação” de nos sentirmos mal e nos odiarmos porque, bem, é isso aí, o peso está sobrando? Vamos começar a estranhar quando gente com quem não temos nem queremos ter a menor intimidade nos fala de dietas e receitas de vida? Vamos tentar gostar disso que carregamos com tanto custo –ou perdê-lo sem nos perdermos no meio do caminho. Vamos tentar achar quem realmente goste de nós, em vez de estetas de última hora incapazes de uma boa consulta ao espelho? Vamos mandar à merda as “consultoras de moda” que dividem as roupas entre “pra quem está magra” e “saco de lixo espacial pra esconder gordas”? Vamos admirar aquelas corajosas que saem à rua exibindo uma torrente de gordura saltando das minirroupas que outras pessoas determinam como “roupa do verão –para magras”? Vamos ter um pouco de liberdade? Vamos mandar essa gente louca tomar no cu? Vamos parar com a mania de sermos zumbis, vagando e vomitando à espera dos nossos “iguais”? Vamos, por favor?
Precisamos de um monte de terapia coletiva. Vamos conseguir.
E a mensagem emocionante do final.
Encontrei esse texto no http://brazilianwax.wordpress.com/ e adorei.