Você teria coragem de casar-se com alguém obeso?
Ou que fosse quase meio metro mais baixo?
De outra cor?
Religião?
Ou, quem sabe, ainda, com alguém que tivesse uma deficiência física?
Ora, que pergunta boba a minha. Claro que casaria, afinal, o que conta mesmo é o amor e a “química” entre o casal. Será?
Fiquei pensando nisso depois de assistir, em São Paulo, à peça Gorda, que trata justamente deste tema. Protagonizada pela atriz Fabiana Karla (aquela do programa Zorra Total que diz “isso pode… isso não pode”), a trama mostra claramente como o preconceito pode falar mais alto na hora de se assumir um relacionamento amoroso com alguém que não esteja dentro dos padrões estéticos ditos “corretos”.
O enredo conta a história de um executivo que se apaixona por Helena, uma mulher muito interessante, porém, obesa. Para seguir em frente nesse difícil relacionamento, ele terá que superar alguns desafios, como as piadinhas dos amigos no escritório, o despeito da ex-namorada magérrima e – o que é pior – os seus próprios preconceitos. Não vou contar o final, porque perderia a graça, já que a peça deve rodar o Brasil. Mas posso adiantar que a gente sai da sala pensando no assunto e reavaliando certos valores.
Li algumas críticas sobre o texto e há quem diga que o autor exagerou no melodrama. Mas para quem vive o preconceito na pele, a situação apresentada pelos atores é bem real. E cruel. Quem não conhece pelo menos uma adolescente gordinha que sempre fica sobrando nas festas, ou um menino acima do peso que só em sonhos consegue atrair a atenção da gatinha da escola? É assim mesmo que as coisas acontecem, e não adianta tapar o sol com a peneira, como dizia a minha vó.
A Helena tinha muitos outros atributos – era inteligente, sensível, engraçada, divertida, culta, carinhosa. Tudo o que um homem poderia querer de uma mulher. Só não tinha um corpo escultural que, hoje, parece ser pré-requisito para ser aceita e admirada. Mas a protagonista desta história bem que poderia ser, também, uma negra – porque um homem branco, bonito e bem-sucedido teria que, igualmente, vencer barreiras e lutar contra o preconceito para casar-se com uma mulher negra (ou vice-versa, claro).
Poderia, também, ser uma cadeirante. Não é isso, por exemplo, o que está mostrando a novela Viver a Vida, com o romance entre o médico Miguel e a modelo tetraplégica Luciana? A mãe do jovem cirurgião, interpretada com maestria pela atriz Natália do Valle, se desespera ao imaginar o filho casado com uma cadeirante. E por quê? Porque a moça foge do padrão estabelecido. É novela, eu sei. Mas é, também, a vida real. Infelizmente.
Viviane Bevilacqua