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Tag: Problematizando palavras

07.07.16

Problematizando: Gordinha – Novo Hit de César Menotti e Fabiano

Todo mundo já viu o clipe da nova música do César Menotti e Fabiano? Se ainda não assistiu, podem assistir clicando aqui.

gordinha cesar menotti e fabianoÉ sobre essa música que falaremos hoje, para mim que sou fã da dupla está sendo muito difícil ter que ver essa música rodando nas redes sociais o tempo todo. O que tinha intenção de ser uma homenagem, acabou virando uma música que propaga ainda mais preconceitos sobre o corpo da mulher gorda.
Se alguém que acompanha o blog  achou a música legal e positiva, eu te convido para problematizar o que tá sendo dito nela comigo.

“Ela tá fora do padrão que você quer
Mas eu gosto dela assim
Ela não faz seu tipo de mulher
Mas é fora do normal pra mim”

A música começa com um cara dando satisfação para outro homem por estar pegando uma mulher gorda, como se isso fosse algo totalmente inaceitável que demanda tantas justificativas.
Sabemos bem que ser gorda é só uma característica física, tem sim caras babacas que são preconceituosos, mas em geral tem muita gorda por aí realizada no amor e os namorados(as) não estão fazendo nenhum favor para a humanidade ao gostar delas.

“Ela não anda, não malha, não corre
Mas ela se cuida como ela pode
Não quer saber de malhação, ela tá linda
Vai comigo pro boteco mas não vai pra academia”

Oi? Ela não anda por qual motivo? Se não for por um problema físico todas ANDAM, ou gordas agora são imóveis? Não fez sentido!
Quanto a dizer que ela não malha é um puta preconceito, eles como homens gordos que se exercitam nunca deveriam propagar. Gordas malham sim se essa for a vontade delas, quem pensa/fala que toda gorda vive no sedentarismo total está sendo gordofóbico ao julgar alguém só por ter um corpo gordo.
Se cuida como pode, seria algo do tipo ela se arruma? Me poupe!

“Ela é gordinha mas é minha, eu não troco por nada
Quando sai comigo ela arrasa na balada
Ela é gordinha mas é minha, tem gente querendo
Olha que sucesso minha gordinha tá fazendo”

Essa parte é possessiva e fetichizadora, o cara demonstra ter prazer em saber que a gorda dele atrai outros olhares. Ok cada um com suas taras, mas é no mínimo incoerente com a primeira parte da música onde o cara se sente fazendo um favor para a gorda, agora ela já é desejada por todos (Será que é por ter um homem? Espero que não!).

Eu realmente me frustrei muito com a música, não esperava jamais todo esse preconceito em forma de música vindo da minha dupla favorita, que conhecem tão bem os preconceitos sociais que todo gordo vive.

Mas infelizmente as gordofobia é algo tão naturalizado que os gordos estão sempre reproduzindo os preconceitos sem se dar conta.

Eu torço de coração para que cada gorda/gordinha que passe aqui pelo blog consiga entender que esse tipo de “elogio” não está na verdade nos elogiando, e que ainda está colaborando para o preconceito que já é grande em relação aos nossos corpos.

Lembrem-se sempre: Nós mulheres gordas não precisamos de validação de ninguém para nos sentirmos lindas e amadas do jeitinho que somos.

04.06.15

Problematizando a palavra “Gordice”.

O que é “gordice”? Antes de explicar a problemática do termo, a gente tem que entender o significado dele e porque ele é usado.
Bom, “gordice”, segundo o dicionário informal, significa ” o “ato do gordo”, para fazer gordice, não é necessário ser gordo de fato, apenas pensar como um: agir com ansiedade, gula, ser repetitivo… e outras formas de se comportar de forma escrota e incômoda, ou seja, é atribuir a característica física de uma pessoa gorda, que não é só sua gordura, às características psicológicas e comportamentais (mesmo de pessoas que não tem o mesmo tipo físico!!), colocando-a em um pacote de ações genéricas que não necessariamente demonstram sua totalidade.
Em resumo: desumanização.
Usa-se esse termo, geralmente, para associar à comida. “vou fazer uma gordice”, disse a menina magra que comeu um sanduíche bem suculento ao invés de aspargos no almoço.

Gordice

Qual a problemática desse uso?

Bom, se mesmo com o significado acima, ainda não deu para entender qual o problema de falar gordice, é bem simples: você está atribuindo atitudes incômodas, generalizando um ser humano por causa de uma de suas características físicas. Resumindo, você está desumanizando uma pessoa, tornando-a uma coisa, um ser que, devido aquela característica, só faz o que lhe foi preconceituosamente determinado e que seria esperado dele.
Fez-se isso com negros, ao adotar a ideia de que todo negro é ladrão.
Fez-se isso com homossexuais, ao adotar a ideia de que todo homossexual é afeminado, ou é doente, ou transtornado.
Fez-se isso com mulheres, ao aplicar-lhe a ideia de que toda mulher é sentimental, submissa, louca, ou só tem seu corpo como atributo.
Você desestrutura uma pessoa, transformando-na apenas em um adjetivo: gorda. E então, afirma toda sua identidade, vivência e personalidade nesse adjetivo, reforçando estereótipos e violência, transformando o gordo em algo negativo e que deve ser punido e culpabilizado.

“Mas esse termo não é só usado pra pessoas gordas”, não, não é. Mas continua atribuindo uma característica do corpo gordo – que é o próprio fato dele ser gordo – como algo negativo, nojento, indisciplinado, preguiçoso e inútil. E é isso que faz com que as pessoas que possuem esse tal corpo tenham essas atitudes atribuídas e se sintam mal.
“Ah, mas eu só uso esse termo pra falar de comidas”, continua sendo preconceituoso. Não é apenas a comida que vai fazer seu corpo se tornar gordo, existem outros fatores que podem fazer uma pessoa engordar: biotipo, problemas hormonais, sedentarismo, depressão, gravidez, invalidez etc. Quando você associa gordo a comida, além de você fazer um uso generalizante de um grupo de pessoas que já é marginalizado, você desconsidera o fato de que muitas pessoas gordas podem ter, inclusive, distúrbios alimentares e que isso pode ser extremamente ofensivo.
Mesmo gordas, algumas pessoas convivem com transtornos alimentares (bulimia e anorexia) e essas associações só fazem esses problemas piorarem (e não só pra pessoas gordas, pessoas magras bulímicas e anoréxicas veem esse termo e associam que vão engordar ao comer e decidem não fazê-lo mais por um transtorno psicológico). ou seja, você está contribuindo para que várias pessoas que possuem Transtornos Alimentares e depressão fiquem ainda piores, só fazer uma piada. Isso realmente vale a pena?

Então eu devo parar de falar imediatamente e fazer com que as pessoas ao meu redor parem também? Sei lá, tipo: se você prefere continuar fazendo outras pessoas se sentirem mal, pode continuar. Você que decide!

Sou magra e posso avisar as pessoas do meu facebook ou espaço social que gordice é um termo horrível? Sim, por favor!

 

Texto por Cater Pillar

* Frequentemente teremos aqui termos problematizados, dicas são bem aceitas. <3

07.05.15

Problematizando a palavra “Gordinha”.

“Juliana? Qual delas?”
“Aquela gordinha, dona de uma loja de roupas plus size”.
Hoje me peguei pensando nas palavras “Gorda” e “Gordinha”. Acredito que há ponderações que posso fazer sobre o termo “Gordinha”. Posso até estar inventando alguma moda aqui, mas, no meu entendimento, a não ser que você esteja uns 8 kg acima do seu peso, vc não é gordinha, é gorda. G-o-r-d-a.
E eu, gorda aqui que vos digito, acho importantíssimo perdermos o medo desse adjetivo, pois ele nomeia uma característica do nosso corpo. E é fruto também de incontáveis olhares feios, cagações de regra e frases prontas como a de “Não é por estética, Mas…”
Não devemos nos ofender com a palavra Gorda. A partir do momento que assumimos com todas as letras esse nome, ele perde a conotação negativa e passa a ser uma fonte de empoderamento e libertação dos padrões limitados de beleza da sociedade contemporânea.
Quando aceitamos ser chamadas de gordinhas, estamos aceitando aquele 48/52 que aperta, estamos anulando a voz e existência de pessoas, corpos, almas de tamanhos diferentes. Estamos negando a possibilidade de amor próprio e aceitação por uma pessoa gorda, obesa e, porquê não, obesa mórbida. É claro que existem problemas de saúde atrelados ao excesso de peso, mas não é por isso que uma pessoa fora destes padrões rígidos e escrotos de beleza não pode e não deve se amar e se achar linda todos os dias. Ser gorda ou gordo na sociedade de hoje e assumir esse estigma, quebrando os incontáveis preconceitos de quem não está nessa situação, não é só tomar um milk shake sem culpa.

quote gorda
O peso não está de fato nos quilos. Quer dizer, está também. Mas não é ele que realmente conta. Não é ele que realmente dói. As palavras, os julgamentos, os olhares com ar de superioridade doem muito mais. O peso que a nossa sociedade fiscalizadora da vida alheia faz, sobre a vida e a alimentação do gordo, por exemplo, é muito maior.
Conseguir viver com isso, hoje em dia, sem em nenhum momento do dia se sentir subjugado, inferior, feio, e [insira característica negativa aqui] é mais do que um ato de amor próprio. É um ato político. Ser gorda/o e estar bem com isso hoje é o propósito e causa de uma luta. A minha luta: contra a gordofobia. O preconceito, velado, travestido em forma de “Mas é para a sua saúde” e controlador, limita, dita padrões sobre como ser feliz, como ser bonito, como o outro deve viver. E bem, a verdade é que a vida não é um The Sims onde podemos controlar tudo e todos, criar e personalizar. As diferenças, essas sim, são bem vindas, sempre. São as que acrescentam, transformam, mudam. Ampliam olhares e horizontes. Gorda, para mim, não é uma simples palavra ou insulto. É o nome da minha rebelião~

Texto por Crow Luine

* Frequentemente teremos aqui termos problematizados, dicas são bem aceitas. <3