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Tag: nutricionistas

09.02.17

Dietas: o que ninguém te conta sobre elas

As dietas existem desde sempre, porém mais recentemente elas vêm ganhando um espaço maior.
Os motivos principais para se fazer dieta são dois:

1) controlar o peso corporal/forma física (ficar mais magra, ficar mais forte, ganhar mais peso, ter menos barriga, etc) e

2) controlar uma questão de saúde (colesterol alto, diabetes mellitus, hipertensão, etc.).
Mas o que é uma dieta?
Para a ciência da nutrição, ninguém faz uma dieta porque todo mundo tem uma dieta. Ela significa a alimentação consumida por uma pessoa. Ela é quase a mesma coisa que “alimentação”. Na ciência da nutrição dizemos: “O José tem uma dieta normoproteica”, que significa que a alimentação dele tem a quantidade normal (que ele precisa) de proteínas*.
Para o restante do planeta, fazer dieta ou estar de dieta significa fazer uma alimentação diferente, geralmente uma alimentação onde se retira parcialmente ou totalmente algum nutriente ou grupo alimentar. Por exemplo, as pessoas dizem “estou fazendo a dieta da proteína”, e nessa dieta a prioridade é comer alimentos que contenham proteínas* e não comer alimentos ou comer poucos alimentos que contenham carboidratos*. Em todo o texto eu estou falando destas dietas.
Só para exemplificar: dieta da sopa, do abacaxi, da USP, de Atkins, Dukan, da lista do pode e não pode, detox, do tipo sanguíneo, da lua, entre milhares de outras.

Qual dieta funciona mais?
Essa é uma dura verdade que eu trago: nenhuma.
Muitos estudos que comprovam eficácia de dieta, do ponto de vista de perda de peso, em sua maioria são estudos de curto tempo e/ou sob ambientes extremamente controlados. Isso porque eu nem estou citando os estudos que comprovam que elas não funcionam ou as que sequer têm algum estudo científico comprovando alguma coisa.
A título de curiosidade: de cada 100 pessoas que emagrecem fazendo uma dieta, apenas 5 delas conseguem manter o peso em até 2 anos. CINCO!
Antes que você pense “Ah, mas isso é uma questão de determinação/foco/força de vontade”, trago outra verdade: não é. E a indústria por trás das dietas adora que você pense assim, porque isso leva você a uma nova dieta (mesmo que seja a mesma, só que com outro nome).
Se as dietas apenas não funcionassem, tudo bem, afinal, se uma pessoa tentasse uma dieta para emagrecer e não emagrecesse, que mal teria, não é mesmo? Entretanto, o problema é bem maior: elas têm efeitos colaterais e riscos.

O que acontece depois delas?
As dietas ativam um mecanismo que funciona na forma de um ciclo (veja a imagem abaixo).

Nesse ciclo, a pessoa inicia se “sentindo gorda”, considerando isso um problema. Em seguida ela pensa em uma solução para esse problema. Na maioria das vezes, essa solução é uma dieta (às vezes ela não tem nome, mas algo como “nunca mais vou comer doces”, por exemplo). Nessa dieta, como já mostrei para você, ela necessariamente exclui ou limita muito algum alimento ou nutriente. Essa limitação gera automaticamente um desejo pelo proibido. Em algum momento (horas, dias, semanas ou meses) esse desejo irá ser maior que a proibição e a pessoa se revolta contra a dieta. Nesse momento a pessoa irá comer esse alimento, muitas vezes com voracidade ou escondido ou em grande quantidade. A consequência disso é a geração de uma grande sensação de culpa, e essa culpa será direcionada para corpo (“eu estou muito gorda”), que por sua vez irá levar novamente ao pensamento de dieta (“eu nunca mais vou comer isso”).
Além de todo esse sofrimento que passa batido e é encarado como normal, o que acontece é o inverso do desejado: a pessoa ganha mais peso do que tinha inicialmente. Esse vai e vem do peso, chamado de “efeito sanfona” ou “efeito ioiô” é uma das coisas mais danosas para saúde.

O queridinho do momento: o jejum intermitente.
Esse assunto é muito polêmico. Existem pessoas defensoras ferrenhas do jejum intermitente, desde pesquisadores até pessoas que o praticam.
O jejum intermitente é basicamente um método de administração da alimentação baseada em ficar alguns longos períodos em jejum. A justificativa é que isso reduziria o peso e melhoraria indicadores de saúde do corpo.
Porém, a prática pode ter alguns efeitos colaterais: dores de cabeça, irritação, queda do açúcar no sangue, deficiências vitamínicas, cansaço, etc. O mais importante deles é: ganhar o peso perdido novamente, entrando no ciclo acima novamente. Eu não considero o jejum intermitente como um cuidado, mas sim como uma atitude danosa.
Deixo algumas questões para reflexão: Qual a diferença entre fazer esse jejum intermitente e o comportamento de uma pessoa com anorexia nervosa? Por quanto tempo eu planejo fazer essa “dieta”? Como eu vou comer depois que eu parar de fazer? Se eu tivesse um filho de 4 anos, eu deixaria ele fazer essa “dieta”, em nome da sua saúde?
Minha ideia com esse post é apenas alertar você que as dietas podem ser muito tentadoras, mas igualmente perigosas!

*Todas as palavras marcadas com * se referem a nutrientes, ou seja, substâncias que existem nos alimentos, essenciais para o nosso corpo funcionar bem.

19.01.17

Saúde em Todos os Tamanhos – Health at Every Size

Muitas pessoas sofrem ao procurar serviços de saúde por terem medo de serem hostilizadas por conta do seu peso. Esse medo infelizmente é real. Isso não acontece unanimemente, mas é comum.

Em minha experiência como nutricionista há mais de 8 anos, não é raro ouvir histórias de, no mínimo, falta de sensibilidade e, no máximo, de discriminação de pessoas gordas. Essas histórias são dos mais variados profissionais, serviços particulares e públicos, com homens e mulheres, em todas as faixas etárias e no mundo todo.

Em resposta a isso, surgiu há menos de 20 anos atrás um movimento conhecido como Health at Every Size (HAES; a tradução seria algo como Saúde em Todos os Tamanhos). Os profissionais que seguem essa filosofia seguem 5 princípios básicos.

  • Abordagem inclusiva do peso: aceitar a diversidade de corpos existentes e rejeitar a idealização ou patologização de determinados tipos físicos; 
  •  Focar na melhora da saúde: olhar para a saúde de maneira ampliada (e não apenas como peso), considerando fatores tanto biológicos, psicológicos, sociais, econômico, políticos, entre outros; 
  •  Cuidar com respeito: reconhecer os preconceitos sociais existentes e trabalhar para o fim da discriminação em todos os âmbitos da sociedade; 
  •  Comer para o bem-estar: promover o comer de forma flexível, individualizada, baseada nos sinais de fome e saciedade, necessidades nutricionais e prazer, ao invés de dietas com foco em perder peso;  
  • Movimentar-se para melhorar a qualidade de vida: apoiar atividades físicas que possibilitem pessoas com quaisquer tamanhos, habilidades e interesses em participar de uma atividade que movimente o corpo de maneira prazerosa.

Esse conceito é ainda pouco popular no Brasil. Mundialmente as pessoas que trabalham sob essas diretrizes se denominam size friendly (não há uma tradução muito boa para esse termo, seria algo como amigáveis em relação ao peso/tamanho).

Aos poucos a comunidade científica vai mostrando que abordagens nessa linha produzem resultados de saúde muito bons à longo prazo.

Por exemplo, um estudo publicado em 2015 por um grupo de pesquisadores brasileiros trabalhou com 15 mulheres com obesidade*. Ao longo de 1 ano, elas se encontravam periodicamente com profissionais size friendly para melhorar o bem-estar. Ao final do estudo elas relataram estar mais fisicamente ativas, percebendo melhor seus corpos, inclusive fome e saciedade, evitando o comportamento restritivo em relação a alimentação (exemplo: preciso deixar de comer massas), entre outras melhoras. Além disso houve uma mudança discreta no peso corporal.

É realmente muito bom saber que cada vez mais profissionais da saúde (embora ainda sejam poucos aqui no Brasil) estão conhecendo a HAES e se realmente ajudando pessoas gordas a cuidar da sua saúde dignamente, sem sofrer discriminação.

Algumas dicas importantes de um profissional da saúde size friendly:
Quando precisarem de um serviço de saúde (seja nutricionista, dentista, ginecologista, etc.) procurem por um profissional que não as discrimine;

Não ache a discriminação normal – piadas/broncas sobre o seu peso, cadeiras que não suportam seu peso, culpabilização do seu peso por qualquer problema de saúde, etc.

Reclamem! Se você estiver usando um serviço do SUS (Sistema Único de Saúde) existe a ouvidoria, basta ligar para o número 136 e registrar sua reclamação (ou elogio/sugestão). Caso esteja em um serviço particular, pode usar a ouvidoria do convênio, ou mesmo fazer uma avaliação negativa em uma de suas redes sociais (ou uma positiva, caso você tenha se sentido vem).

Eu desejo que todas as pessoas que estão lendo esse texto possam ir a um serviço de saúde e se sentirem cuidadas de verdade, não importando seu tamanho ou peso!

*O termo “obesidade” foi usado quando falamos do estudo por se tratar de uma medida específica de peso e altura das mulheres que participaram da pesquisa.

15.02.16

Nutricionistas do Bem – Eles existem!

Ir a nutricionistas sempre foi visto como uma coisa triste, além de não poder comer mil coisas ainda rola uma cobrança por emagrecimento e uma associação a ser saudável quando estivermos magros. Certo? Errado ainda bem. <3
Ate uns cinco anos atrás eu acreditava que todo nutricionista passava receitas cheias de: Pode e Não Pode!Nutricionistas

E isso nunca me pareceu algo positivo para ser seguido.

O desgaste emocional em não mais poder comer um alimento saboroso, não pode ser visto como viver saudável.

Essa era visão de nutricionistas que eu tinha, e logicamente não curtia. Em 2010 eu conheci uma nutricionista que agia diferente, ela não dizia que gordos eram doentes ou magros saudáveis. Fiquei encantada com ela e toda a sua proposta, pela primeira vez eu vi uma profissional de saúde não agir de forma negativa em relação a corpos como o meu.

Essa nutricionista se chama Ana Carolina do blog e page O corpo é Meu! o trabalho vocês podem acompanhar no blog (aqui) e no facebook (aqui). Em seguida eu conheci o Cezar Vicente, outro nutricionista com uma visão positiva sobre todos os tipos de corpos. A sua page no facebook se chama Saúde em todos os Tamanhos (clica aqui).
Com o contato com os dois eu comecei a ler mais sobre HAES (http://haescommunity.com/)e entender que existem muitos estudos que provam que é possível ser saudável em qualquer peso.

Já publiquei textos de ambos aqui no blog e sempre que podia tentava mostrar a possibilidade de ser saudável em qualquer tamanho corporal. Inclusive que nenhum grande sacrifício alimentar como “shakes” valem a pena.

Nutricionistas do bem

Em 2013/2014 surgiu a page Não Sou Exposição, e foi ali que essa ideologia começou a ser mais divulgada, a nutricionista que administra a página é dessas pessoas que defendem até o fim a sua opinião e isso causa um impacto muito positivo <3. Ela questiona sem receios a conduta gordofóbica de colegas de profissão e prega sempre que ser saudável não tem nenhuma relação com ser magro. (acesse aqui)

Já em meados de 2015 surge o CACI – Centro de Alimentação Consciente e Intuitiva, que é um projeto ainda mais amplo, idealizado por algumas nutricionistas. A proposta inclue palestras sobre alimentação e o autoconhecimento sobre as necessidades do corpo. (saiba mais aqui)

Todos esses links que citei e outros que posso ter esquecido, foram criados por nutricionistas que passei a denominar “Nutricionistas do Bem”!
Por algum motivo eles aprenderam o que outros se negaram a aprender na faculdade, que é possível ser SAUDÁVEL EM QUALQUER CORPO.

todo corpo é um bom corpo

Os Nutricionistas do Bem nos ajudam a lidar melhor com a comida, a ter uma alimentação mais variada, mas não recriminam as comidas mais gostosas e nem induz que a gente viva só de integrais. O mais importante é que eles sabem que qualquer corpo pode ser saudável e não julgam os gordos como seres glutões e preguiçosos.

Eles estão sendo responsáveis pela libertação de muitas pessoas, que viveram anos aprisionados na ideia que só magros são saudáveis.

Eu não consigo mensurar quantos nutricionistas do bem existem no Brasil, mas peço vocês que se conhecerem algum nos indiquem nos comentários. Afinal todo mundo merece ter contato com um deles e se puder ser paciente é melhor ainda. *__*

Mas quero agora saber de vocês, já tiveram algum contato com nutricionista? Como eles agiam?
Vocês já tinham ouvido falar, ou já se consultou com este tipo de nutricionista que mostro no post? Contem-me sobre aqui nos comentários. *__*