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14.04.10

Show de Preconceito em Viver a vida por Papu Morgado

Eu assisto a novela Viver a vida praticamente todos os dias, e me irrito com frequencia com os diálogos ruins que me causam o incrível fenômeno da “vergonha alheia” ( quando você se sente vergonha por outra pessoa, pelo que ela fez e/ou disse). Neste caso tenho vergonha alheia por quem escreve os diálogos e pelos atores que têm que falar coisas rídículas, desconexas e as vezes sem sentido. Mas gosto muito dos atores.
Assisto também porque gosto do tema da superação de limites que a vida apresenta. Através do personagem Luciana, interpretada por Aline Moraes, que fica tetraplégica são abordados temas como preconceitos e dificuldades da vida de um cadeirante e a mensagem é clara: é possível ser feliz mesmo dentro das nossas condições de vida.
No final sempre tem um depoimento de uma pessoa real, chamado “Portal da Superação” na qual pessoas contam como superaram inúmeros tipos de desafios tais como doenças, preconceito, vícios, condições adversas, morte na família, separações, etc… Até mesmo Renata Pokus Vaz do blog Mulherão deu seu depoimento por lá, falando como mesmo tendo sobrepeso ela conseguiu realizar seus sonhos.
Em uma novela que fala de superação, de libertação de preconceitos o capítulo de ontem teve um diálogo surreal. Para ilustrar meu ponto reproduzo aqui a carta que mandei para a Central de Atendimento ao Telespectador da Globo.
” Olá,
Assisto a novela Viver a vida todos os dias e gosto muito de como a questão do preconceito e dificuldades dos cadeirantes têm sido abordada. Os depoimentos finais também são emocionantes e nos fazem refletir sobre nossas próprias vidas, conquistas e limitações.
No entanto, no capítulo de ontem houve um diálogo entre a cadeirante Luciana e sua sogra Ingrid que foi preconceituoso e sexista.
A conversa começou com Luciana dizendo que muitas mulheres engordam após tornarem-se cadeirantes, e que um marido abandonou a esposa cadeirante porque em um ano ela teria passado do manequim 40 para o 48.
A reação de ambas em relação a este abandono foi achar normal o marido ter feito isso.
É uma postura altamente sexista que coloca a mulher na condição de objeto sexual,que passou a não ser “suficiente” para o uso do marido.
Sou uma mulher de 34 anos, casada, com uma vida bacana, ativa, pratico esportes, sou uma ótima profissional tenho um ótimo relacionamento com meu marido em todos os níveis. E o meu manequim é 48. Minha vida não terminou por causa disso.
Me incomodou e chateou muito uma novela que aborda com tanta delicadeza a questão do preconceito deixar passar um diálogo como este. Não sou cadeirante, mas imagino que uma cadeirante que esteja acima do peso deve ter se sentido bastante mal com esse show de preconceito.
De todos os tipos de preconceitos, o preconceito em relação a pessoas acima do peso ou obesas é socialmente aceito e por isso muito cruel porque as pessoas se acham no direito de julgar quem está acima do peso e oferecer “soluções” que não foram solicitadas.
Mas continua sendo preconceito e é tão feio quanto qualquer outro.
Por conta disso criei um blog há dois anos http://curlvelyme.blogspot.com/ que aborda a questão da ditadura da magreza/beleza e sobre a importância da auto estima na construção de uma vida mais feliz, mais satisfeita.
As pessoas têm tamanhos diferentes e o fato de uma pessoa ser gorda ou obesa não a impede de ser feliz.
As pessoas são gordas ou obesas por uma série de motivos, que vão desde predisposição genética, problemas de saúde, depressão, distúrbios alimentares.
De qualquer maneira, independente do motivo pelo qual a pessoa seja gorda ou obesa é importante ressaltar que as pessoas têm tamanhos diferentes: existem pessoas magras, baixas, altas, gordas, médias, com cabelos louros, negros, enrolados, lisos.
Ser gordo faz parte da diversidade humana e ainda que uma pessoa seja gorda porque não consegue parar de comer ( e, acreditem, isso não é a regra) ainda sim merece ser tratada com respeito e dignidade. Existem pessoas magras com estilos de vida muito menos saudáveis do que muitas pessoas gordas, mas essas pessoas são magras e portanto, socialmente aceitas .
Gordos não são párias sociais.
Somos pessoas como qualquer outra que trabalham, que são consumidores, que amam, que têm uma vida.
Ser gordo não deve ser tratado como uma questão de moral ou caráter (ou falta de.)
Existem vários blogs de mulheres que se valorizam e são a prova viva de que é possível viver uma vida legal, sadia e feliz com seus quilos a mais.
Uma lista de alguns blogs que estão criando um importante movimento plus size na internet: http://originaldani.blogspot.com/
http://poderosasgordinhas.blogspot.com/
http://manualpraticodagordinha.blogspot.com/
http://mundogege.blogspot.com/
http://belezasemtamanho.blogspot.com/
http://cotidianogordo.blogspot.com/
http://gmaravilhosas.blogspot.com/
http://mulherao.wordpress.com/
Espero, sinceramente que estas questões sejam consideradas em uma novela que tem a preocupação de informar, de lutar contra o preconceito.
Tenham cuidado e sensibilidade ao abordar o tema do sobrepeso de um modo geral (sim, existe vida além do manequim 42).
Especialmente no caso dos cadeirantes com sobrepeso achei o diálogo um enorme descuido.
Já vi vários depoimentos de pessoas acima do peso ao fim dos capítulos, inclusive o de Renata Poskus Vaz do blog Mulherão e acho a iniciativa muito construtiva.
Mas a escorregada do capítulo de ontem foi imperdoável.
Porque pessoas com limitações ou simplesmente diferentes do padrão também existem e podem sim ter uma vida satisfatória e feliz.
Se como dizia a camiseta de Luciana outro dia “ser diferente é normal”, cuidado com os preconceitos em uma novela cujo tema é superação”.

Patricia Morgado

A Patricia tem um blog o Curvelisciously Me muito bom, e vale a pena acompanhar os textos dela, estou reproduzindo este para que o maior número de pessoas possam refletir, sobre o que a mídia nos impõe no dia a dia.

2 Comentários // Deixe o seu!

  • Jéssica Balbino says:

    >Adorei a manifestação sobre o fato.
    Meu manequim é 54 e nem por isso eu deixo de viver. Trabalho bastante, estudo, saio, me divirto, compro roupas e sou feliz.
    Acho absurdo as mídias continuarem a ridicularizar os gordos !
    bjo

  • Thelma Tavares says:

    >Oi gente,

    Desde sempre sou grandona e nunca tive corpo de mocinha.
    Tenho 1,77 man 52 e moro ha' 10 anos nos Estados Unidos, onde consegui finalmente me vestir da forma que gosto, sem parecer 10 anos mais velha.
    Estou montando um site de consultoria para atender brasileiras PLUS SIZE como eu:

    http://hx7.hostseguro.com/~tudobig/

    A minha ideia e' a cliente pedir o que quer e como quer, entao eu vou as lojas ate achar o que ela deseja do tamanho, modelo, cor e valor maximo que ela se destine a pagar.
    Eu nao possuo mercadoria, eu dou a assessoria na compra aqui nos Estados Unidos do que a cliente desejar, envio fotos do que encontrei e so' depois da aprovacao, cobrarei pelo meu servico e enviarei a nota da compra junto com o pedido.
    Aqui posso achar uma infinidade de possibilidades, por isso digo que a cliente escolha o que deseja, realize o sonho de ter aquela roupa que nunca achou no seu tamanho. Aquele vestido que viu numa vitrine e adorou, mas nao tinha PLUS SIZE, por exemplo.

    Por isso por telefone fica mais facil de se tirar todas as duvidas e me disponho a telefonar sem pressa, basta me enviar o numero de um telefone convencional (nao posso ligar para celular) atraves de email para:

    thelmat@bol.com.br

    Toda ideia nova gera duvidas, mas ressalto que sou muito solitaria e escolhi esse trabalho tambem na esperanca de fazer amigas. Vou economizar pra voces, vou procurar o melhor e vai ser bom pra todas.

    Gostaria que divulgasse o meu trabalho.

    Obrigada.

    Thelma Tavares

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