Assisto a novela Viver a vida todos os dias e gosto muito de como a questão do preconceito e dificuldades dos cadeirantes têm sido abordada. Os depoimentos finais também são emocionantes e nos fazem refletir sobre nossas próprias vidas, conquistas e limitações.
No entanto, no capítulo de ontem houve um diálogo entre a cadeirante Luciana e sua sogra Ingrid que foi preconceituoso e sexista.
A conversa começou com Luciana dizendo que muitas mulheres engordam após tornarem-se cadeirantes, e que um marido abandonou a esposa cadeirante porque em um ano ela teria passado do manequim 40 para o 48.
A reação de ambas em relação a este abandono foi achar normal o marido ter feito isso.
É uma postura altamente sexista que coloca a mulher na condição de objeto sexual,que passou a não ser “suficiente” para o uso do marido.
Sou uma mulher de 34 anos, casada, com uma vida bacana, ativa, pratico esportes, sou uma ótima profissional tenho um ótimo relacionamento com meu marido em todos os níveis. E o meu manequim é 48. Minha vida não terminou por causa disso.
Me incomodou e chateou muito uma novela que aborda com tanta delicadeza a questão do preconceito deixar passar um diálogo como este. Não sou cadeirante, mas imagino que uma cadeirante que esteja acima do peso deve ter se sentido bastante mal com esse show de preconceito.
De todos os tipos de preconceitos, o preconceito em relação a pessoas acima do peso ou obesas é socialmente aceito e por isso muito cruel porque as pessoas se acham no direito de julgar quem está acima do peso e oferecer “soluções” que não foram solicitadas.
Mas continua sendo preconceito e é tão feio quanto qualquer outro.
Por conta disso criei um blog há dois anos http://curlvelyme.blogspot.com/ que aborda a questão da ditadura da magreza/beleza e sobre a importância da auto estima na construção de uma vida mais feliz, mais satisfeita.
As pessoas têm tamanhos diferentes e o fato de uma pessoa ser gorda ou obesa não a impede de ser feliz.
As pessoas são gordas ou obesas por uma série de motivos, que vão desde predisposição genética, problemas de saúde, depressão, distúrbios alimentares.
De qualquer maneira, independente do motivo pelo qual a pessoa seja gorda ou obesa é importante ressaltar que as pessoas têm tamanhos diferentes: existem pessoas magras, baixas, altas, gordas, médias, com cabelos louros, negros, enrolados, lisos.
Ser gordo faz parte da diversidade humana e ainda que uma pessoa seja gorda porque não consegue parar de comer ( e, acreditem, isso não é a regra) ainda sim merece ser tratada com respeito e dignidade. Existem pessoas magras com estilos de vida muito menos saudáveis do que muitas pessoas gordas, mas essas pessoas são magras e portanto, socialmente aceitas .
Gordos não são párias sociais.
Somos pessoas como qualquer outra que trabalham, que são consumidores, que amam, que têm uma vida.
Ser gordo não deve ser tratado como uma questão de moral ou caráter (ou falta de.)
Existem vários blogs de mulheres que se valorizam e são a prova viva de que é possível viver uma vida legal, sadia e feliz com seus quilos a mais.
Uma lista de alguns blogs que estão criando um importante movimento plus size na internet: http://originaldani.blogspot.com/
http://poderosasgordinhas.blogspot.com/
http://manualpraticodagordinha.blogspot.com/
http://mundogege.blogspot.com/
http://belezasemtamanho.blogspot.com/
http://cotidianogordo.blogspot.com/
http://gmaravilhosas.blogspot.com/
http://mulherao.wordpress.com/
Espero, sinceramente que estas questões sejam consideradas em uma novela que tem a preocupação de informar, de lutar contra o preconceito.
Tenham cuidado e sensibilidade ao abordar o tema do sobrepeso de um modo geral (sim, existe vida além do manequim 42).
Especialmente no caso dos cadeirantes com sobrepeso achei o diálogo um enorme descuido.
Já vi vários depoimentos de pessoas acima do peso ao fim dos capítulos, inclusive o de Renata Poskus Vaz do blog Mulherão e acho a iniciativa muito construtiva.
Mas a escorregada do capítulo de ontem foi imperdoável.
Porque pessoas com limitações ou simplesmente diferentes do padrão também existem e podem sim ter uma vida satisfatória e feliz.
Se como dizia a camiseta de Luciana outro dia “ser diferente é normal”, cuidado com os preconceitos em uma novela cujo tema é superação”.
Patricia Morgado