Finalmente depois de um milhão de capítulos, a personagem Perséfone da novela “Amor à vida” resolveu reagir. Desde que anunciou seu casamento com o Daniel, todos vinham fazendo piadas a respeito do fato de Perséfone ser gorda, mas na semana passada ela reagiu ao preconceito quando a futura cunhada chamou ela de “gorda ridícula”, Perséfone acordou do seu longo sono e colocou a cunhada para fora de casa aos berros.
Parece simples, mas não é, eu sempre escutava alguém dizer que Perséfone além de gorda era boba, sem poder de reação, mas reagir vai além do que muitos pensam.
Perséfone caso existisse, mostra a mesma educação que milhões de mulheres recebem no mundo inteiro, somos educadas para não reagir e jamais, jamais, levantar a voz para alguém. Mulheres que gritam, falam alto, se expressam e deixam claro o que querem são chamadas de “machos”, “sapatões” e coisas assim.
Também aprendemos desde pequenas que as pessoas dão muita importância a aparência de uma mulher e quando nos chamam de gordas apenas querem nos ajudar, ninguém faz isso por mal. Tudo isso se junta a tantas mentiras que escutamos desde crianças.
Eu reagi algum dia como a Perséfone, mas demorei tanto quanto ela e ainda paguei o recibo. Virei para alguns uma desequilibrada, alguém que não podia manter a cabeça no lugar e pouco confiável, mas como Perséfone reagi a uma gota de água, depois de ver durante anos a água subindo no meu copo.
Desse episódio que reagi a uma agressão só lamento uma coisa: não ter reagido antes. Depois peguei fama de destemperada e as pessoas começaram a diminuir as agressões, não sabiam mais se eu iria dizer um monte ou não.
Meu conselho a todas as Perséfones é esse, reajam, não tem outro jeito de fazer as pessoas recuarem e pararem com as agressões.
Reagir traz paz a alma, é melhor do que dormir passando mal de raiva e impotência.
Desde que reagi aprendi isso, se a mulher mais incrível e perfeita do mundo se aproximar e me indicar uma dieta ou me chamar de gorda, talvez, talvez, eu fique quieta, mas se for como todo mundo, igual a milhões e com os mesmos defeitos de todos, então eu mando calar a boca.
Pouco tempo atrás eu tinha que aprender uma coreografia para um trabalho. Sou meio lenta em aprender os passos, mas depois que aprendo nunca mais esqueço. Infelizmente a coreógrafa não sabia disso e no meio do ensaio disse: Sempre que tem uma gordinha no meio atrasa todo mundo.
Em tempos passados eu teria chorado de noite e meu estômago ficaria virado por dias, de tristeza. Mas esses tempos acabaram, então perguntei a ela com quem estava falando, ela afiou a língua e disse: Tem alguma gorda aqui além de você?
Não tinha. Então eu perguntei se ela era a Madonna, quando ela me disse que não eu respondi: Então faça seu trabalho, porque você é uma fracassada, uma perdedora que está em um sábado quente dando aulas para uma gorda, caso fosse alguém não estaria aqui.
Lógico que o tempo fechou para mim, escutei de todo mundo. Imagina, ela não quis me ofender quando me chamou de gorda duas vezes, mas eu tive a coragem de chamar alguém como ela de “perdedora “, o mundo caiu.
Mas já me acostumei a este planeta. É assim mesmo, as pessoas podem detonar uma gorda, mas se ela reagir é porque além de gorda é maluca.
Azar o dela, mas para minha saúde prefiro reagir do que engolir quieta. Ah, mas isso pode magoar muita gente, é, mas prefiro isso do que sair magoada, quem bateu agora vai aprender a apanhar quieto. E o ser humano assim, só aprende a respeitar quando o outro reage.
Iara De DuPont
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