Primeiro foi a “palavra com N”. Negro. A mim não soa nada mal. É igual a branco. Diversidade. Não pretendo substituí-la por “afrodescendente”. Mas nos Estados Unidos, país onde o politicamente correto atingiu níveis absurdos, já há algum tempo não se pode falar tal coisa. “The N Word, nunca”, explicava Oprha Winfrey num programa que vi ano passado. Foi quando eu descobri essa história, que não me saiu mais da cabeça. Pois ontem li um artigo no site americano The Huffington Post dizendo que agora é a palavra “gordo” que está proibida.
Compreendo que, nos dias de hoje, como este é um dos sete pecados modernos, a palavra pode soar mesmo como xingamento. A gordura é vista por muita gente como falha de caráter. Mas daí a banir o termo de nosso vocabulário é ridículo.
“Nós podemos falar sobre dietas e exercícios, e sobre o sucesso das modelos de tamanho GG – constantemente – mas não podemos mais usar a palavra GORDO como adjetivo. A não ser, é claro, que estejamos nos referindo a nós mesmos”, diz a articulista Vicki Iovine.
“Você mexeu com o sedentário processador de comida errado!”, brincou Kevin Smith em seu twitter semana passada. Há 15 dias, o ator e diretor americano foi expulso de um voo da Southern Airlines por ser…gordo. Muito gordo. Smith tem o costume de comprar dois assentos, mas desta vez conseguiu passagem num horário anterior e ficou com uma cadeira só. Foi expulso. Ganhou uma pequena indenização e, como é comediante, assunto para novas piadas.
Iovine diz, com propriedade, que ao expulsar uma palavra de nosso vocabulário, corremos o risco de abafar o assunto. E a epidemia atual de gordura, obesidade, é tão perigosa para nós quanto o aquecimento global. Do jeito que a coisa vai, seremos a última geração que vai viver mais do que a anterior. “Nossas crianças estão morrendo e nós estamos tentando ser politicamente corretos. Isso não está certo”, afirma. O pior é que isso pega. Outro dia pensei mil vezes antes de escrever a palavra “pobre” em um texto. Menos favorecidos? População carente? Necessitados?
Na televisão, qualquer Big Brother grita “c….” dez vezes seguidas em horário nobre. Já se pode dizer “m…” em qualquer novela. Agora os palavrões são outros. Daqui a pouco não poderemos dizer que alguém é feio. A pessoa terá apenas “falhas de design divino”. Estou esperando a hora em que ninguém poderá dizer que eu sou loura – talvez porque alguma loura possa pensar que estar sendo xingada de burra. Ou talvez algum dia eu não possa mais dizer que sou mulher – porque haverá alguém ache que isso significa uma ofensa à diversidade sexual.
Brincadeiras à parte, isso tudo é um horror. Antes que passemos a usar as palavras apenas citando as iniciais, vamos pensar que importa mais do que se faz, de fato, do que o que se diz.
Por Martha Mendonça do blog Mulher 7×7
http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7