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01.03.10

O novos palavrões do politicamente correto

Primeiro foi a “palavra com N”. Negro. A mim não soa nada mal. É igual a branco. Diversidade. Não pretendo substituí-la por “afrodescendente”. Mas nos Estados Unidos, país onde o politicamente correto atingiu níveis absurdos, já há algum tempo não se pode falar tal coisa. “The N Word, nunca”, explicava Oprha Winfrey num programa que vi ano passado. Foi quando eu descobri essa história, que não me saiu mais da cabeça. Pois ontem li um artigo no site americano The Huffington Post dizendo que agora é a palavra “gordo” que está proibida.

Compreendo que, nos dias de hoje, como este é um dos sete pecados modernos, a palavra pode soar mesmo como xingamento. A gordura é vista por muita gente como falha de caráter. Mas daí a banir o termo de nosso vocabulário é ridículo.

“Nós podemos falar sobre dietas e exercícios, e sobre o sucesso das modelos de tamanho GG – constantemente – mas não podemos mais usar a palavra GORDO como adjetivo. A não ser, é claro, que estejamos nos referindo a nós mesmos”, diz a articulista Vicki Iovine.

“Você mexeu com o sedentário processador de comida errado!”, brincou Kevin Smith em seu twitter semana passada. Há 15 dias, o ator e diretor americano foi expulso de um voo da Southern Airlines por ser…gordo. Muito gordo. Smith tem o costume de comprar dois assentos, mas desta vez conseguiu passagem num horário anterior e ficou com uma cadeira só. Foi expulso. Ganhou uma pequena indenização e, como é comediante, assunto para novas piadas.

Iovine diz, com propriedade, que ao expulsar uma palavra de nosso vocabulário, corremos o risco de abafar o assunto. E a epidemia atual de gordura, obesidade, é tão perigosa para nós quanto o aquecimento global. Do jeito que a coisa vai, seremos a última geração que vai viver mais do que a anterior. “Nossas crianças estão morrendo e nós estamos tentando ser politicamente corretos. Isso não está certo”, afirma. O pior é que isso pega. Outro dia pensei mil vezes antes de escrever a palavra “pobre” em um texto. Menos favorecidos? População carente? Necessitados?

Na televisão, qualquer Big Brother grita “c….” dez vezes seguidas em horário nobre. Já se pode dizer “m…” em qualquer novela. Agora os palavrões são outros. Daqui a pouco não poderemos dizer que alguém é feio. A pessoa terá apenas “falhas de design divino”. Estou esperando a hora em que ninguém poderá dizer que eu sou loura – talvez porque alguma loura possa pensar que estar sendo xingada de burra. Ou talvez algum dia eu não possa mais dizer que sou mulher – porque haverá alguém ache que isso significa uma ofensa à diversidade sexual.

Brincadeiras à parte, isso tudo é um horror. Antes que passemos a usar as palavras apenas citando as iniciais, vamos pensar que importa mais do que se faz, de fato, do que o que se diz.

Por Martha Mendonça do blog Mulher 7×7
http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7

5 Comentários // Deixe o seu!

  • Lindsae says:

    >Não sou contra usar a palavra negro e nem gordo. Mas sei muito bem diferenciar qdo estão falando de uma característica minha ou quando estão tentando me zombar.
    O que deveria ser proibido, seria zombar de características físicas das outras pessoas, porque mesmo com um eufemismo é possível ofender o próximo.
    Mas a autora está chovendo num copo d'agua, ainda não há dado algum que comprove que a epidemia de obesidade vá fazer com que as pessoas vivam menos. Acredito que o sedentarismo sim, é o pior.
    E claro, deixar com que as pessoas desrespeitem o gordo, não vai fazer ninguém emagrecer. É coisa de gente burra, sendo ou não loira.
    PS: Martha querida, nos EUA, eles usam a palavra "black" para nomear os afrodescendentes. Aqui no Brasil, a tradução tem uso proibido. É só uma questão de cultura.

  • vanessa lopes says:

    >Eu entendi o que a Marta quis dizer e vi uma matéria, da Lele no R7 sobre isso: os homossexuais e os gordos são o novo negro!

  • Papu Morgado says:

    >A palavra gordo não é o problema, e sim os estereótipos veiculados a ela.
    Nos Estados Unidos as pessoas que são do movimento Fat Acceptance usam a palavra no próprio título. Existem blogs e mais blogs que utilizam a palavra Fat no nome, The F word, Big Fat Blog, Fat Rant, The fat nutritionist, Fat activist, Big Fat deal e tantos outros.
    Aqui no Brasil a palavra "gordo" ainda não é tão bem vista então as pessoas não gostam de se definirem assim e utilizam "gordinhos/as".
    Acho legal desmitificar a palavra gorda, utiliza-la sim porque a palavra em si não encerra um julgamento de valor.
    Ser gordo é um tipo de corpo, e não importa aqui o porque da pessoa ser gorda. O problema é o estigma de que ser gordo é igual a ser preguiçoso, sem força de vontade e outras coisas nada positivas. Assim as pessoas tem medo de usa-la ou utilizam para ofender.
    Concordo com a idéia que ao inves de nos preocuparmos com uma epidemia de obesidade deveríamos ter em foco a questão do sedentarismo, da falta de movimento que traz consequencias péssimas para saúde de gordos e magros a longo prazo.
    Esta deveria ser o foco da campanhas de saúde e não a gordura em si.
    Isso poderia aliviar o estigma da palavra gordo. Fiz um post sobre a palavra gorda http://curlvelyme.blogspot.com/search/label/Ser%20Gordo%20%C3%A9… que fala o porque da relutância de usar esta palavra.

  • >Hilário o texto, as pessoas pensam que não dizendo uma palavra evitam o preconceito, mas esta está no interior de cada um.
    beijos

  • >Chamar alguém de gordo ao invés de usar seu nome é grosseiro, mas não chega a ser uma ofensa. A pessoa gorda é gorda, independente de chamarem-na assim ou não.
    Parar de dizer a palavra só vai tornar pior a necessidade de seu uso.

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