Um leitor me enviou um link de uma matéria por ter se chocado e acreditar que eu precisava ver, ao clicar no link (aqui) eu pude ver mais um caso de Gordofobia na nossa sociedade. Fui buscar mais informações daquela gorda linda que foi impedida de trabalhar, como ela tem uma trajetória muito interessante, eu a pedi que fizesse este Guest Post para que vocês possam conhecer melhor que é a Bruna a mais nova vítima da Gordofobia e da Hipocrisia de nosso país.
E eis que a maior ironia que jamais pensei viver me ocorre neste Março de 2014. Eu que, desde o ano passado venho pesquisando e escrevendo um projeto de pesquisa sobre gordofobia, eu que tenho tentando entender como o discurso médico adestra os corpos com suas verdades que, a maior parte das pessoas sabe serem fugazes e, mesmo assim, por momentos breves, as tornam verdades absolutas (posso listar aqui uma série de falas da ciência e da medicina ao longo desse século XX e que foram alteradas com o tempo), eu que tenho tentado me livrar do estigma sobre meu corpo, agora sou confrontada com ele novamente e de um modo que jamais pensei.
Sou gorda desde sempre, nasci gorda e cresci gorda. Durante a adolescência tive momentos realmente complicados em que me achava um lixo, desprezível. Via minhas lindas e magras amigas vivendo seus romances enquanto eu idealizava os meus, sem coragem de assumi-los, pois ser gorda era desprezível.
Mudei minha relação com meu corpo quando adentrei o ensino superior e passei a ser admirada, principalmente por minha inteligência e desenvoltura, mas também por meus dotes físicos. Foi o primeiro momento em que me senti uma mulher bonita, senti que mesmo gorda eu era interessante.
No último ano tenho levantado dados e suscitado uma pesquisa de mestrado sobre GORDOFOBIA. Escolhi o tema muito antes da repercussão da simpática Perséfone na novela. A escolha se deu pelo fato de ter visto o termo aflorando dentro da luta feminista, na qual sou engajada, e achei que ele merecia um tratamento especial, visto que no meio acadêmico ele ainda não existe.
Frente a todo o exposto, eis a minha história no momento. Passei no concurso de professores do Estado de São Paulo, escolhi meu cargo e fui nomeada, porém no momento de minha perícia médica, ainda que meus exames demonstrassem uma boa saúde, fui reprovada por ser obesa mórbida. Meu IMC é de 40,4 e está situado na última escala do índice. Segundo esse simples cálculo, que iguala todos os corpos negando suas estruturas musculares e ósseas, sou incapaz para o serviço público que, ironicamente já presto para esse mesmo Estado que me negou o cargo e na mesma carreira. E eu, que estava então entrando em harmonia com minhas formas, estava aprendendo a fugir da opressão que essa sociedade me impõe, agora não sirvo nem mais para ser professora, uma carreira feita quase que exclusivamente do trabalho intelectual, intelecto que vai muito bem, obrigada, uma vez que por muitas vezes comprovei ao Estado ser conhecedora dos conteúdos que ensino e que me deram o segundo lugar na minha diretoria de ensino.
O quanto fiquei abalada por isso? Muito, demais. Estudei tanto sobre gordofobia e hoje sinto na pele uma enorme discriminação. O preconceito da não contratação por ser obesa afeta minha vida funcional e minha carreira, afeta minha estima e meu bolso.
Encerro esse texto afirmando minha luta, continuarei a estudar o tema, continuarei na briga por minha vaga e, acima de tudo, continuarei na luta contra a gordofobia que vivemos. Luto por mim, luto por todas nós mulheres grandes.