Estava acompanhando um tópico por aí que seguia mais ou menos assim. Apresentaram uma piada, até que bem legal, e todos riam, até que alguém surgiu dizendo:
– Ah! Mas quem escreveu isso foi fulana.
– E o que tem? A piada não é boa?
– Mas é que fulana é gorda…
A sequência não foi exatamente essa, mas resumindo, foi mais ou menos o que quiseram dizer.
Aí, foi como se fosse uma licença depreciativa a todos os debatentes para achincalharem a pessoa, afinal, ser gordo, ou ter sido gordo um dia, autoriza os outros a te ridicularizarem, fazerem piadas com você e traçarem o perfl completo de sua personalidade, ainda que quem faça tudo isso não lhe conheça. E não te dá direito de rebater a nada, pois está em condição inferior: a de ridículo. Ou quiçá vagabundo, pois já li de gente por quem até tenho certo apreço e respeito que obesidade é intolerável, pura ausência de força de vontade.
O país parece estar aprendendo a lidar com diferenças étnicas, sexuais e raciais… Quer dizer, não acredito piamente que as pessoas extirparam esses preconceitos de dentro delas, já que em conversas privadas você ainda escuta o mesmo tipo de piada ridícula e ultrapassada que ajudou a massificar essas idéias que para elas parecem ainda serem verdades, mas ao menos já aprenderam que não podem ou não devem expressar isso publicamente. Porém, ridicularizar qualquer gordo só para não perder a piada continua valendo.
Não pretendo que se inicie nenhum tipo de movimento pró-gordinhos ou contra o preconceito pelo tamanho da circunferência abdominal, até porque quase toda iniciativa a favor de minorias (e os sobrepesos nem são tão minoria assim) acaba ficando um saco, ou criando aberrações como cotas segregacionistas ou carnavais fora de época. Nem tenho nada contra brincadeiras oportunas, pelo contrário, eu mesmo vivo fazendo chacota com meu peso. Gordinho sofre, brinco. Só não posso deixar de achar bizarras ou hipócritas algumas situações, do tipo:
- Aquela pessoa que bota no Facebook frases como “campanha pela vida: cada um cuida da sua”, e depois vai dar aquele “toque de amigo”, do tipo “engordou hein?”, como se o gordo não tivesse espelho em casa.
- Diálogos que se desenrolam mais ou menos na base do: “É bonita? “Não, é gorda”, como se fossem coisas necessariamente mutuamente excludentes, e como se gosto não fosse subjetivo. Eu, por exemplo, não gosto de mulher musculosa (músculos enrijecidos em excesso).
- A mesma indústria de consumo que trata de te empurrar junk food é incapaz de produzir roupas de tamanho adequado para todos os biotipos. Tente, por curiosidade, entrar numa C&A ou Pernambucanas da vida e encontrar uma camiseta maior que GG… Depois me conta.
- Fala-se tanto em acessibilidade aos portadores de deficiência e continuam disponibilizando o mesmo tipo de assento estreito para todos. Eu já vi, em ambiente de trabalho (não foi comigo, que fique claro), entregarem uma cadeira que não durou uma semana para um funcionário obeso, e quando este foi reclamar falaram que a culpa era dele, por ser tão gordo!
Ah! Mas claro, deficiência física não é uma opção. Ser gordo é, e é uma vergonha! Pelo menos é o que fazem parecer.
Quem é o autor da próxima novela das nove mesmo? Acho que vou enviar uma cartinha sugerindo incluírem um casal de gordinhos e suas mazelas no enredo, sem que façam deles o núcleo cômico da trama. Parece ser a receita para fazer a população refletir sobre respeito às diferenças (ou pelo menos deve ser, dada a insistência em inserções de debates sobre “minorias” no plim-plim).
Nota: o título deste texto é em alusão à expressão Fat is the New Black. Léo Jaime escreveu em seu blog um texto interessante com essa mesma expressão traduzida (“Gordo é o novo preto“), em Março passado. Mas eu mudei a essência dela porque de “novo” esse preconceito tem muito pouco.
Texto retirado daqui.
Um amigo me enviou o link, achei uma boa abordagem do tema e acredito e espero que vocês também curtam.