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Categoria: Ponto de Vista

30.01.18

Guest Post – Sou positiva. Sou soropositiva

Convidei a querida Letícia Assis, para um guest post contando sobre sua vivência como soropositiva, acredito que a experiência dela pode ser um alerta para muitas de nós. 


Há pouco mais de um ano minha vida mudou. Como jornalista, não gosto de enrolar e talvez por isso guardei comigo a forma de resumir assuntos nas primeiras linhas. Em novembro de 2016 descobri portar o vírus do HIV.

Agora, com calma, posso contar como foi e as razões pelas quais há alguns meses resolvi compartilhar essa história.

Tenho 40 anos, sou comunicadora, com formação e carreira em jornalismo. Também sou cozinheira profissional, mantenho uma empresa de eventos e sou cosmetóloga natural, entre outras aventuras.

soropositiva

Tenho uma filha, sou casada há quase uma década e, de alma cigana, já vivi em muitas partes desse Brasil. Dei aulas, aprendi, dei cabeçadas e me permiti. Isso inclui a parte sexual. Porém – ironicamente ou não – apesar de ter sido uma mulher de muita atividade, sempre gostei de ter alguém, de me apaixonar, das delícias e agruras de uma vida a dois. Fiz muito sexo sim, de muitos os tipos, sabores, tons, geralmente precavida de tudo até por ter a lua em virgem. Simm, havia esquecido de mencionar que minha maior amante nessa vida sempre foi a intuição. Graças a ela, conheci mil formas de espiritualidade, da astrologia à umbanda, meu pé no chão, creio, definitivo.

Pois essa canceriana, com ascendente em peixes, lua em virgem, vênus em touro; filha de Iemanjá com Xangô; portadora do Ohikari Messiânico e iniciada na Escola de Mistérios se viu sem chão no dia 28 de novembro de 2016, após 20 dias de coma induzido graças a um quadro de pneumonia severa. Sem chão eu estava mesmo porque ainda não andava e foi na UTI que aquele médico lindo e atencioso me deu a notícia. Ele já tinha contado ao meu marido e à minha mãe. Resolveu ele mesmo me falar, longe de todos, sobre os primeiros indícios do que havia acontecido comigo.

Para minha surpresa, eu estava com esse vírus tão assustador há muito tempo. Meu último teste de sorologia tinha sido feito na gestação da minha filha, hoje com 12 anos. Depois disso, até fiz um teste num posto e nunca fui buscar. Sabe-se lá o porquê… E as razões que me fizeram chegar ao limite do meu corpo. Logo eu, que sempre preferi saber das coisas de cara, por mais doído que fosse, achei que não era importante.

Uma sombra pairava sobre mim. Eu não sabia bem a razão. Só sentia. Mas como nenhum médico desconfiou, nem em pequenas cirurgias, nem olhando meus exames, seguia vivendo. Ao mesmo tempo, mantinha meu namoro e depois meu casamento com o Tiago sem uso de proteção. Secretamente, meu medo maior era que viesse dele algum problema pela visão que ele mesmo tinha do mundo. E não veio. Somos o que se chama de casal sorodiscordante.

Não veio dele e de nenhum dos parceiros de uma única noite que tive. Veio do namorado mais careta e mais retrógrado que tive. Um cara cheio de fantasias, sem coragem pra admitir seu verdadeiro eu, sociopata, agressivo, cheio de “poréns”, abusivo e que até minhas roupas queria controlar. Ou seja, alguém pelo qual até hoje não sei o porquê de ter me interessado. Talvez porque ele mentisse melhor do que eu. E, na época, eu era boa na arte de enganar as pessoas. Me senti desafiada a me relacionar com aquele mito da falsidade. Ou a sombra dele ofuscava a minha. Sei lá. Gostei muito dele. Só caí fora porque vi que estava indo pra um caminho que não me agradava. Mentira. Tenho certeza que caí fora graças aos meus guias e também ao Tiago – que de amigo passou a ser meu amante e depois namorado. Era um egum sem luz contra um exu tinhoso. O Exu sempre vence!

Ativismo e o Sim sou Diva

Há algum tempo, eu vinha participando de eventos e até promovendo alguns. Cheguei a criar um coletivo feminino, chamado Sim sou Diva. Estivemos em toda mídia possível local e nacional nos dois anos em que existimos. E num desses eventos (o Divas do Cinema Plus), eu organizei tudo e simplesmente não pude ir. Minha respiração era tão frágil, que eu mal cruzava uma rua sem chorar de dor no peito. O pulmão estava se entregando…

Foram nem dois dias para que eu fosse internada e logo estava entubada, inconsciente, na UTI. Mesmo assim, a descoberta do HIV só aconteceu por uma enfermeira que insistiu para que o médico examinasse minha boca, lotada de cândida, há meses. Eu nunca desconfiei que aquilo fosse indício de HIV. Pra mim era apenas baixa imunidade.

Teste certeiro e carga viral acima de 55 mil cópias. E daí o resto eu já falei.

Então, por muito tempo me escondi, com medo da rejeição. Contei para poucos amigos e alguns familiares. Aos poucos, fui tomando coragem, lendo depoimentos, voltando a trabalhar. Percebi que minha reclusão era a negação da minha luz e que eu precisava sim me expor. Eu lia pessoas falando de coisas acerca do vírus que eram risco iminente; aquilo me incomodava. Foi então que gravei o primeiro vídeo. Fiz umas 10 versões até que um ficou simples e natural:

Altos e baixos

Um dos tabus do HIV é pouco ou nada se falar a respeito do humor severamente afetado pelas medicações. Há quem consiga manter uma constância, mas no geral – e no privado – quase todo mundo relate instabilidade emocional. Num dia estamos bastante confiantes e no outro já planejamos testamento. Isso não tem tanto a ver com personalidade e sim com as reações químicas que o coquetel promove no cérebro.

Para quem não sabe, qualquer medicação antirretroviral penetra as barreiras neurocerebrais. Os efeitos variam muito: vão de alucinações à insônia leve, passando por euforia e tristeza, à praticamente nada. Cada organismo reage de uma forma e sabemos que pesquisas sobre atividade cerebral ainda são bastante inconclusivas seja qual for a razão.

Então, o portador de HIV está sujeito a variações de humor bem acima da média. Se tens algum amigo, parente, colega de trabalho ou companheiro em tratamento, um conselho: seja tolerante. Não, você não sabe o que é estar na pele dele, na nossa pele. E não é por piedade; não precisamos disso. É por exercício de humanidade, de compreensão.

Aliás, falando em piedade, é bem chato ouvir frases do tipo das pessoas. Até compreendo que pouco se fala sobre o assunto, pouco se conhece sobre tratamentos e reações e o estereótipo da morte rondando ainda é muito presente na sociedade. Mas ACREDITE: não precisa sentir pena. Ofereça seu apoio, seu abraço, seu ombro e principalmente o seu sorriso. A alegria cura, acredito muito nisso.

As dificuldades

Ouvi de várias pessoas quando contei que elas tinham um primo, um amigo go, blablabla, e que era só tomar o remédio e teria uma vida normal.

Não. NÃO! O coquetel é o primeiro passo, porém o caminho tem tanta pedra, gente, que não cabe em definições simplistas. Acredito que existam casos bem simples sim, mas não é o meu e não é o de muita gente.

Primeiro que há vírus mais resistentes (prazer!) do que outros. Segundo que as relações psicológicas, de trabalho, de firmeza da mente ou espiritualidade, de alimentação, DE OPORTUNIDADES DE TRATAMENTO PARALELO E DE APOIO são muito diferentes. Eu me trato pelo SUS. Não tenho queixas, exceto pela demora no resultado dos exames e das genotipias. Meu médico, Dr. Juliano, é excelente, atencioso e sempre busca informações adicionais quando precisa. A equipe DST do posto de São José e de Biguaçu sempre foi solícita dentro do que o serviço público e a situação em que o país se encontra permite.

Por um tempo, tive plano de saúde. Pude fazer check up cardiológico, endocrinológico, nutricional, ginecológico e pulmonar. Santa Catarina tem uma rede de medicamentos bem razoável e poucas vezes tive que peregrinar por medicação paralela. A do HIV nunca faltou.

Mas sei que há regiões do país onde falta até o coquetel. Pra marcar consulta é um inferno e por aí vai. Então, tenho consciência que sou privilegiada.

Outro privilégio é viver em um sítio, respirando ar puro, comendo coisas orgânicas. Isso faz muita diferença. Enfim, não dá pra simplificar e por todo mundo na mesma sacola.

Mesmo assim estou numa situação crítica: carga viral alta, CD4 baixíssimo, CD8 razoável e uma possível resistência medicamentosa.

Daí, pessoas, ouvir de quem você ama que te falta gratidão, que te falta perdão, que teu corpo está assim por intransigência, é bem desconfortável, pra não dizer cruel. Veja bem: pode até ser que seja verdade, mas nesse momento não quer ler nem ouvir isso. Se você não tem um abraço ou um sorriso pra me dar, nem diga nada. Não é momento de me julgar nem de apontar meus erros, até porque quem nunca errou? Só um parênteses.

Melhor então me deletar como muita gente fez ao ver o meu primeiro vídeo. É mais honesto e que cada um lide com sua forma de ver a vida.

Estereótipos

Por fim, para que esse texto não vire um tratado e agradecendo o precioso convite da Kalli, a quem admiro faz tempo, uma das razões pelas quais resolvi me expor é por ler comentários em grupos e posts, não necessariamente ligados aos HIV, porém bastante preocupantes.

Um deles diz respeito à orientação sexual. A AIDS se firmou como doença de gay, mas há bastante tempo se mostrou poderosa em qualquer âmbito socionormativo. O número de mulheres infectadas que são casadas, heterossexuais e com apenas um parceiro na vida é assustador.

Então, não confie. Ame sim, mas ame mais a você. Até porque milhares de pessoas sequer sabem que portam o vírus e as mulheres são mais vulneráveis por questões fisiológicas e pelo poder do sêmen; poder de contágio que os líquidos vaginais possuem em bem menor proporção.

soropositiva

O outro tem relação com biotipo. Sou uma mulher gorda. Apesar de ter emagrecido, continuo gorda e provavelmente morrerei gorda. Logo, ser gordo não te protege de nada nem denuncia perfil saudável pra DST. Gordos transam como outro tipo de pessoa qualquer. É incoerente, inocente e negligente que você não se proteja porque seu parceiro ou parceira é gordo, apenas pelo estereótipo de que aidético é magro. Estamos em 2018, gente! E o HIV evoluiu mais do que muita gente…

É isso. Teria mais a dizer, mas aos poucos vou compartilhando nos vídeos e, quiçá, na página do Sim sou Diva www.simsoudiva.com.br e www.facebook.com/soudivaplus, a qual pretendo alimentar melhor em breve.

Por enquanto, sigo com minhas incertezas, com muita fé e com meus sabonetes, cosméticos e quitutes, e às vezes palavras e conjecturas.

26.07.17

Guest Post: O Miss Bariátrica e a minha vivência

Essa semana rolou na mídia televisiva uma matéria sobre um suposto concurso de miss bariátrica, a matéria foi ao ar num programa de grande audiência do maior canal de TV aberta do país e me fez questionar muitas coisas.
Eu como mulher gorda e gastroplastizada me senti no direito de me manifestar a respeito desse concurso e contar um pouco sobre a minha vivência e também sobre o que os médicos não falam por aí.

Muito me preocupa o fato de se vender essa cirurgia por aí sem critério algum, uma cirurgia que está na escala das 5 cirurgias mais perigosas está sendo feita de forma banal como solução para emagrecimento definitivo, para encontro da felicidade perfeita e por fim da famigerada saúde, afinal ser gordo é ser doente!
Nunca se ressalta a quantidade de problemas que se adquire pós cirurgia, a quantidade de pessoas que eram saudáveis e ficaram doentes pós cirurgia, a quantidade de pessoas com sequelas severas e irreversíveis e por fim a quantidade de óbitos, que quando eu operei era de 1 pra cada 10 pessoas e sim essa é uma porcentagem absurdamente alta quando você considera que quase todas as pessoas que operam são mulheres jovens e saudáveis, como foi meu caso, e que estão optando pela bariátrica por pressão estética da família e da sociedade.

Não, de forma alguma sou contra o procedimento em si, acredito de verdade que ele salva muitas vidas, mas sei também que ele acaba com tantas outras, como foi o caso da minha mãe, ela como quase todo mundo, passou pelo processo todo de avaliação psicológica e afins, (essa baboseira toda que a equipe médica diz que avalia a fundo se o paciente está de fato apto a ser submetido ao procedimento cirúrgico, mas que no fundo não existe de fato um estudo real do paciente e isso tudo é só pra constar ou pra dizer que houve sim uma boa avaliação prévia) ela tinha depressão, teve várias complicações pós cirurgia, deprimiu mais ainda e sim isso agravou o quadro dela e a levou ao óbito.

Posso dizer que vi dois ou três casos que foram vetados pelos psicólogos e equipe médica dentre as dezenas de casos de operados que conheço. Em compensação a quantidade de pessoas que vejo com depressão pós cirurgia, com vícios em drogas, álcool, cigarro, compulsão por compras, anorexia, bulimia, etc. é enorme. Isso sem contar os problemas metabólicos, vitamínicos, reganho de peso, a tal síndrome de dumping e outras síndromes que são adquiridas pós cirurgia e que sequer os médicos se interessam em resolver. O discurso é sempre o mesmo de que o paciente não se alimenta bem, não se cuida, não tem vergonha na cara, não se esforça, toda reprodução gordofóbica de sempre. Obviamente é muito mais fácil tratar o paciente como culpado do que tentar investigar de fato o que ocorre com aquele indivíduo e o porquê dele estar passando por tais problemas.

O Miss Bariátrica e a minha vivência

Será que eu poderia participar do Miss Bariátrica? É só uma curiosidade…

Voltemos agora a questão do Concurso Miss Bariátrica – Parem e analisem a gravidade disso!
Um médico (que diga se de passagem, nem de longe tem um físico atlético) promovendo um concurso de beleza baseado em uma cirurgia altamente grave. Um procedimento arriscado, caro, com muitas consequências, está sendo vendido como beleza, como felicidade, como bem-estar. Falta critério na indicação de quem deve ou não fazer essa cirurgia, falta respeito pela escolha de querer ser gordo e feliz e saudável sim. Incentivar e submeter pessoas jovens e saudáveis a esse tipo de coisa deveria ser crime!

Ouvi pessoas exaltarem o concurso dizendo que era em respeito à diversidade, não existe diversidade alguma em promover algo que coloca em risco a vida de pessoas saudáveis em detrimento de uma aparência que entre nos moldes midiáticos e sociais. Não se trata de diversidade, se trata de vender produtos, tratamentos, se trata de dinheiro, se trata de fazer de novo e mais uma vez nós mulheres acreditarmos que só teremos valor se formos obedientes, se fizermos exatamente o que a mídia, a medicina e toda a indústria, interessada só em encher os bolsos de dinheiro, nos manda fazer.

Vamos questionar as coisas, se você quer emagrecer, você tem todo direito a isso, existem muitos recursos para isso, mas pense se vale a pena você que é saudável se submeter a uma bariátrica para passar o resto da vida com carência e absorção de vitaminas, síndromes de dumping e afins, queda de cabelo brusca, unhas quebradiças, entalando com muitos alimentos sempre. Que preço você está disposto a pagar em nome na satisfação alheia?

 

Gabriela Tayah

 

 

29.06.17

Remédios para emagrecer

remedios para emagrecer

 

Esse é um assunto polêmico, portanto acho melhor deixar claro alguns pontos antes de começar o texto.

  1. Eu não sou médico, sou nutricionista.
  2. Minha intenção não é indicar ou contra-indicar qualquer tipo de medicamento nesse texto, mas sim trazer algumas reflexões que acho interessante para as pessoas não-médicas fazerem.
  3. Nutricionista nenhum pode prescrever medicamentos, isso é proibido.
  4. Os profissionais da alimentação devem saber como eles funcionam e qual o impacto que isso tem na alimentação, corpo e saúde geral da pessoa.
  5. Embora só os médicos possam prescrever medicamentos, esse é um assunto que diz respeito a todas as pessoas da sociedade.
  6. O foco do texto é o uso desses medicamentos para emagrecer.

Por que estamos falando disso?

Em outubro de 2011 alguns medicamentos para “controle de peso” e “inibir o apetite” foram impedidos de serem comercializados no Brasil e outros sofreram um ajuste de prescrição mais rigoso: anfetamínicos (anfepramona, femproporex e manzidol) e sibutramina, respectivamente.

O motivo de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) “com base em estudos internacionais que constataram a baixa eficácia desses medicamentos na perda de peso e riscos à segurança do paciente”, especificamente “os riscos à saúde oferecidos por esses remédios, como problemas cardíacos e alterações no sistema nervoso central, superam o benefício da perda de peso” ¹. Percebam que as pessoas que participaram desse veto não eram size friendly, mas mesmo assim reconheciam riscos importantes.

Nesse meio tempo esses medicamentos continuavam sendo usados ilicitamente, algumas vezes por pessoas que decidiam tomar elas por conta própria e compravam no “mercado negro”. Outras vezes prescrito por médicos, infelizmente. Eu já era nutricionista nessa época e atendi inúmeras pessoas que fizeram uso desses medicamentos nesse período.

Nesse mês (Junho/2017) esse medicamentos voltaram a ser permitidos no Brasil e isso gerou uma série de debates² . Muitas associações médicas se mostram contra a proibição dessas medicações desde o início.¹

É importante salientar que quem proibiu em 2011 foi a ANVISA e quem liberou em 2017 foi um projeto lei sancionado pelo presidente em exercício. A ANVISA ainda permanece contra e afirma que esse projeto é inconstitucional³.

A primeira questão aqui é: o quanto o Congresso tem de capacidade técnica para decidir se uma substância é mais ou menos danosa à saúde?

Segunda questão é: será que não pode ter rolado uma pressão de algumas indústrias farmacêuticas (que possivelmente financiam campanhas ou fazer acordos políticos com atuais representantes do congresso) para que esses medicamentos fossem novamente liberados, logo para serem prescritos, para a galera ganhar mais dinheiro com consultas e prescrição de remédios?

Terceira questão: as substâncias são as mesmas e o nosso corpo é o mesmo, o que fez essas substâncias serem consideradas perigosas em 2011 aqui no Brasil e 2017 não mais? (PS: Algumas dessas medicações são proibidas há quase 20 anos na Europa e nos Estados Unidos²)

remedios para emagrecer

Você pode e deve questionar sobre alguma medicação que está sendo prescrita

Muitos profissionais não gostam de serem questionados, mas o próprio Conselho Federal de Medicina diz que essa lei “respeita a automia dos médicos e dos pacientes na escolha de procedimentos terapêuticos ‘reconhecidos e válidos’”.³

Vamos fazer valer esse direito? Converse com o médico: eu quero saber mais sobre esse medicamento; eu não quero tomar isso; eu prefiro não usar essa medicação; etc.

E se você não se sentir confiante, procure uma segunda opinião. Ou terceira, ou quarta… Até que você fique satisfeitx com o que foi acordado com você.

Cuidado com as “fórmulas”

Fique atentx principalmente quando o assunto for fórmula manipulada. Não é comum ler ou perguntar o que tem nas fórmulas, mas é preciso.

Mesmo se você não for ao médico para emagrecer, às vezes fica “implícito” pelo fato de ser gordx, que aquilo é necessário ou que você deseja.

Procure saber os efeitos colaterais

Leia a bula. Fomente discussões em fóruns. Converse com pessoas que já usaram pra decidir se você topa ou não o que vem junto do uso desses medicamentos. Alguns efeitos colaterais comuns das anfetaminas são taquicardia (sensação do coração batendo rápido, sentir que ele vai sair pela boca), agitação, insônia, transtornos psiquiátricos, elevação da pressão arterial, etc.

Minha experiência, enquanto nutricionista

O que eu posso falar do que acompanhei dos meus pacientes ao longo desses quase 10 anos, durante o uso de algumas dessas medicações e muitos após anos de parar de usar com o intuito de emagrecer.

Sim, eles emagrecem e muito rápido. Porém a pessoa reganha esse peso na mesma velocidade quando interrompe o tratamento. E o uso da segunda vez nunca produz o mesmo efeito (em termos de emagrecimento), assim como o terceiro e assim por diante.

Algumas pessoas desenvoveram ou potencializaram quadros psiquiátricos (depressão, síndrome do pânico, etc) após alguns meses ou anos da interrupção do uso desses medicamentos.

Muitos amigos médicos me disseram que esses casos são de pessoas que fizeram um uso incorreto da medicação. Isso eu não posso afirmar sobre quem eu acompanhei. Mas eu nunca atendi uma única pessoa que tenha emagrecido e mantido o peso com essas medicações que foram aprovadas. Não significa que elas não existam, mas a maioria foi como eu descrevi acima (fiz um cálculo mental rápido e só nos ultimos 6 anos eu atendi um total de aproximadamente 5 mil pessoas – apenas algumas usavam ou tinham usado essas medicações).

O desejo de emagrecer pode ser sedutor, mas fiquem atentxs para o que esse pacote trará para sua vida, não apenas hoje, mas amanhã, o mês que vem e o ano que vem. O corpo é seu, a saúde também.

 

¹ http://www.brasil.gov.br/saude/2011/10/anvisa-decide-banir-emagrecedores-a-base-de-anfetaminas-mas-libera-sibutramina

² http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/sibutramina-e-remedios-para-emagrecer-entenda/219201/pop_up?_101_INSTANCE_FXrpx9qY7FbU_viewMode=print&_101_INSTANCE_FXrpx9qY7FbU_languageId=pt_BR

³ http://www.farmaceuticas.com.br/presidente-em-exercicio-sanciona-lei-para-liberacao-de-anorexigenos-mas-anvisa-afirma-que-e-inconstitucional

 

https://www.facebook.com/nutricionista.cezar/

07.06.17

Anitta leva representatividade gorda aos palcos…

E gordofobia para as redes sociais.

A cantora Anitta lançou semana passada o clipe de sua nova música gravado na gringa com direito a dançarina gorda e fomos todos a loucura. Foi sem dúvidas um passo bem positivo em prol da representatividade de corpos. Podia ser melhor? Podia sim, mas foi algo inovador vindo de uma cantora pop, todo mundo comemorou e eu também.

 

No último sábado dia 03/06 ela se apresentou na Globo com sua nova música, foi nesse dia que a “diva pop” fez também a apresentação das novas bailarinas do seu ballet. O que poderia ter sido maravilhoso e muito representativo, acabou se tornando algo infeliz, tamparam demais as bailarinas gordas e ainda as deixaram no fundo da apresentação. Os comentários dos fãs (ou haters) estavam questionando por qual motivo as meninas gordas estavam vestidas com roupas e as outras de lingerie.

Em um grupo de militância eu e mais uma galera problematizamos bastante, e tentamos mostrar que aquilo não estava bom, que a gente merece muito mais.

Contrariando a expectativa da galera que dizia “você reclamam de tudo” “reclamar não leva a nada” as queixas foram ouvidas e ontem quando a cantora se apresentou no Música Boa os looks já não estavam mais discrepantes.

Sei que o look da Thais Carla (maravilhosa por sinal) foi montado no dia, é possível ver que o cropped é uma blusa amarrada e não é ainda um look no “padrão” da outra bailarina, mas foi gratificante perceber que correram e deram um jeito de melhorar e espero que sigam melhorando.

A apresentação de ontem foi bem linda por sinal, confiram no vídeo abaixo.

Embora no momento das problematizações tenha sido apontado as falas e ações gordofóbicas da Anitta, eu escolhi não focar nisso e lá no fundo eu tinha esperança que isso seria o passado dela (mesmo que tivesse coisas da semana passada).

Hoje mal acordei e já tinha mais uma piadinha gordofóbica postada por ela, uma galera fez uma paródia da música atual relacionando a alguém gordo e compulsivo. E o que a Anitta fez? Não só compartilhou como deixou claro que á a paródia da sua vida.
Nós sabemos o quanto mulheres magras se dizendo gordas são prejudiciais à saúde emocional de mulheres realmente gordas, posicionamentos assim vindos de uma personalidade pop afetam diretamente a autoestima de milhares de mulheres e meninas que acompanham o seu trabalho.

 

Essas atitudes da Anitta só mostram o quanto o mercado se aproveita cada vez mais de causas sociais, claro que eu quero e fico feliz com o fato dela colocar gordas no ballet, mas aí ela vem e nos lembra o quanto errados somos em ser gordos e o quanto isso é odiável no seu ponto de vista.

Eu sei que a vontade de vibrar com a Thais Carla é imensa, eu também estou vibrando e sei o quanto ela é maravilhosa e merecedora de estar ali.

Mas a gente não precisa passar a mão na cabeça e achar que a Anitta é boazinha, enquanto ela segue propagando que o corpo gordo é inferior aos outros.

Que todos os dias a gente exalte as gordas, mas não dê créditos de boa garota para quem está frequentemente debochando e propagando o ódio/pavor ao corpo gordo.

23.05.17

Parem de glamourizar a perda de peso alheia!

O corpo humano é mutável, no decorrer da vida a gente engorda e emagrece muitos kgs, isso independente de ser gordo ou não. Vários fatores influenciam diretamente no peso das pessoas e é no mínimo sem noção ficarmos apontando o peso alheio, quando se trata de perda de peso é muito comum vermos pessoas comentando e até comemorando.
Nós sabemos muito bem que existe uma cultura focada no emagrecimento a qualquer custo, mas as vezes as pessoas e a mídia perdem a noção e criam matérias ridículas sobre o tema.

Recentemente duas manchetes foram destaque por terem títulos de péssimo gosto.

O cantor Arlindo Cruz perdeu peso por estar com a saúde totalmente debilitada, não faz sentido a mídia dar destaque a uma perda de peso ocorrida com tanto sofrimento após um AVC e 30 dias de UTI.

Já a atriz viveu um luto e ainda perdeu um emprego, não sei se ela emagreceu por fazer dieta, ou foi mesmo fruto de um processo depressivo após as perdas. Mas eu poderia apostar que mais vale ter o pai vivo, que estar “gata” ou mais magra. Este título é no mínimo bizarro.

As pessoas podem estar morrendo ou em sofrimento emocional agudo, mas se elas estiverem emagrecendo sempre vai ter quem acredite que é vantagem passar por aquela situação.

Quem nunca ouviu algo do tipo após aquela gripe brava? Infelizmente a sociedade em geral é doente e acredita que emagrecer é sempre uma vitória.

Sei que ainda vivemos muito inseridos nessa cultura que comenta sim o corpo das pessoas, mas as coisas estão melhorando (graças a desconstrução) e espero que as pessoas, a mídia e a sociedade em geral percebam que não tem lógica comentarmos as mudanças do corpo alheio.