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Categoria: Comportamento

02.07.18

Ensaio fotográfico Templo das Gordas

Em um dos muitos grupos que faço parte no Facebook, eu vi nascer uma iniciativa bem legal e mesmo de longe fiquei acompanhando e torcendo para que fosse algo legal. Eu vi uma fotógrafa se disponibilizar para fotografar todas as meninas que quisessem e dali nasceu a idéia do Ensaio Fotográfico Templo das Gordas, após ela se oferecer chegaram mais pessoas dispostas a ajudar nesse dia (maquiadoras e outra fotógrafa e até uma marca para empréstimos de roupas) e com tanta gente se doando o resultado não poderia ser diferente, as fotos saíram e ficou tudo muito MARAVILHOSO.

Pedi as meninas permissão para compartilhar aqui no blog as fotos e um pouquinho da experiência delas, e hoje estou feliz em trazer para o blog tanto amor (inclusive o próprio) e fotos lindas.

O post vai ser grande, mas eu juro que vale a pena ler e sentir um pouquinho do que foi esse dia para elas. <3

 

Cíntia Lira – @ccolira

As palavras-chave são EMPODERAMENTO e AMOR. Devo confessar que eu estava um pouco preocupada de não conseguirmos nos soltar para interagir e posar para as fotos, mas felizmente esse não foi o caso! É inacreditável como tudo contribuiu para que as coisas corressem perfeitamente. Conseguimos roupas emprestadas da Lollaboo, maquiadoras muito boas, duas fotógrafas… O dia estava muito bonito, e as meninas se entrosaram com bastante facilidade. Eu as vi posando com muita espontaneidade, porque estávamos todas visivelmente contentes com o encontro, com as roupas, com a ideia de sermos modelos num ensaio. Isso gerou auto-confiança. Estavam todas gostosas, e sabiam disso. Muitas pessoas ficaram olhando, afinal, um monte de gorda reunida, de barriga de fora, de saia curtinha, é muito para a cabeça de alguns. Mas todas lidamos com isso da melhor forma. Ignoramos os olhares, erguemos a cabeça e continuamos nos divertindo. Eu, particularmente, estava tão envolvida no que estava acontecendo, que simplesmente senti, não tive muito tempo para pensar, e não tirei uma selfie sequer. Me senti poderosa, andando de saia lápis, top e coturno no meio do MASP, algo impensável até pouco tempo atrás… sabendo que contava com a admiração e respeito das mulheres que estavam ali comigo. Mas o que me deixou muito contente mesmo, é que até quem disse que não iria posar, que só compareceria para observar e conhecer as minas do grupo, se sentiu a vontade para posar, e mandou muito bem. Foi lindo ver todas desabrochando, sorrindo, se sentindo confiantes. Eu vi naquele momento que o grupo estava servindo ao propósito, especialmente porque tivemos diversidade de corpos e tons de pele. Foi a experiência mais única da minha vida. Geralmente eu sou ansiosa e até um pouco calculista, para evitar ser constrangida. Nesse dia, não. Minha guarda estava baixa, eu senti tudo. Fiquei elétrica por dias. Depois ainda fomos a um barzinho juntas, o que também foi muito divertido. Então além do dia do ensaio e das fotos em si, que ficaram lindas, nós estreitamos laços, o que pra mim é muito importante. Há um tempo eu venho me sentindo melhor com a minha aparência, mas três fotos em especial me encheram de um sentimento novo. Em uma, eu me senti literalmente uma deusa. Foi a primeira vez que eu me vi em uma foto e pensei “que mulherão!”, e realmente me achei incrível. Noutra, eu senti o meu coração cheio de amor, porque vi como estávamos entregues ao momento. A terceira, que me mostra sorrindo, gerou um misto de insegurança e contentamento, porque há muitos anos eu não me permitia sorrir em público, sempre me policiando e cobrindo o rosto quando não conseguia evitar. Nesse ensaio eu sorri, esqueci de cobrir o rosto, fui fotografada rindo! Depois do estranhamento, eu percebi que não tem nada de errado com o meu sorriso, ao contrário do que me levaram a crer anos atrás. Esse ensaio me fez muitas coisas, e uma dessas coisas foi que agora eu me permito sorrir, e quero estar com pessoas que provoquem meu riso. Esse ensaio foi uma das coisas que me preparou, espiritualmente, para o ataque gordofóbico que sofri no facebook dias depois, pois me deixou consciente e segura de mim mesma.

 

Jaque Jesus – @ja.quino

Quando a Cíntia propôs o ensaio foi um grande presente. Mesmo com a insegurança de nunca ter sido fotografada dessa forma, eu topei na hora! E que bom que topei! Encontrar essas mulheres incríveis e partilhar esse momento de empoderamento com elas, foi uma experiência extraordinária. Vimos de perto uma após a outra perder a vergonha, abrir os sorrisos e fazer vários carões, foi uma descoberta coletiva bem bonita. Após o ensaio, quando vi nas fotos eu pensei “Noooossa, somos mesmo invencíveis. E eu me vi maravilhosa de uma forma como nunca antes”. A sociedade destrói a auto estima da mulher gorda todos os dias, seja nos olhares de reprovação, nos panfletinhos de dietas, nas catracas do ônibus e principalmente nas falsas preocupações com a nossa saúde. Quando nos reunimos em grupo e enaltecemos como somos lindas, poderosas e sexys, parece que as coisas ficam um pouco mais fáceis. Nos tornamos mais fortes para enfrentar o mundo lá fora.

 

Claudia Baht – @claudia_baht

Minha auto-estima está sendo nutrida pela experiência nesse grupo de gordas.
Posar para as fotos foi uma superação que só aconteceu porque o encontro com as mulheres do Templo das Gordas gerou uma vibe tão incrível, que me senti tão poderosa como todas que estavam lá.
Fui ao encontro resoluta que não ia posar para as fotos e que queria mesmo era conhecê-las pessoalmente e acabei tomando uma lição de como olhar para mim e ver a mesma beleza que vi naquelas mulheres maravilhosas e desde então, estou mergulhando no amor e na dor de enxergar o meu corpo e me posicionar.
O contato com o grupo está me proporcionando uma experiência de crescimento sem volta e realmente engrandecedora.
Enfim, agradeço de coração a todas, t-o-d-a-s, TODAS as mulheres do grupo Templo das Gordas por me proporcionarem isso. 🖤

 

Jéssica – @jessica_mantovani751

Esse ensaio de fotos foi umas das melhores experiências que já vivi. Me senti mais mulher mais linda me senti ainda mais segura. Conheci mulheres lindas e cheias de poder. E a partir desse dia me sinto ainda mais linda e poderosa. Por que sei que sou assim e sou linda com esse MEU PADRÃO.

Aline Carolina – @a.caaarol

Que experiência incrível, nunca tinha feito um ensaio mesmo sempre tendo gostado de tirar fotos. Meu maior medo era os olhares das pessoas ao redor, mas estar com outras mulheres que me inspiram me deu muita força e animação na hora de fazer as poses e carão.
Antes mesmo de ver o resultado já me sentia muito mais linda, poderosa e confiante. Aguardei as fotos muito ansiosa, e foi uma surpresa ver que mesmo com toda vergonha as fotos tinham ficado linda.
Depois desse ensaio me sinto muita mais segura na hora de tirar fotos, principalmente quando estou na presença de outras pessoas.

Ensaio fotográfico Templo das Gordas

Erica (Kika) – @kika_bm

Sou gorda desde que me entendo por gente ou até mesmo antes disso. Já emagreci, engordei incontáveis vezes nessa vida.
Engravidei com 30 e desde então, reencontrar a auto estima tem sido uma labuta. O corpo muda, a cabeça muda. As fotos me ajudaram a consolidar o meu reencontro com a mulher em mim, depois do processo de maternidade. A gente se reinventa, né? E nada melhor do que um olhar cuidadoso pra mostrar o que a gente, muitas vezes, esconde ou não tem tempo pra olhar.
Uma coisa bastante marcante dessas fotos é que recebi elogios da minha própria mãe, uma pessoa que sempre criticou meu corpo.
Outras pessoas que também sempre sugeriram, inclusive, a bariátrica pra mim, vieram falar que as fotos estavam fantásticas.
Acho que falta o olhar do corpo gordo como estético. Não é o status, mas é bonito. As pessoas não estão acostumadas a ver, não sai na mídia.

Para a realização deste dia maravilhoso algumas profissionais doaram seu trabalho e convido todos a curtir/seguir as páginas delas.

Maquiagem: By Caroline & Vannessa  e   Jéssica Gregório MakeUp&Ds  

Fotografia: Aline D’Unhão e  Gabriela Lima

A Lollaboo cedeu looks para quem quisesse usar nas fotos.

Foi um dia mega especial para as participantes e até para mim que acompanhei de longe. O exemplo dela é boa dica para todas nós, que tal unirem em suas cidades e fazer sessões de fotos como essas? *_*

07.06.18

Guest Post – SOMOS SEM RÓTULOS

Quando vi a Thalita Arruda compartilhando em seu Instagram fotos dela com sua amiga (magra) vestidas no mesmo estilo eu já amei de cara, sabendo da veia bloguística dela eu já a convidei logo para trazermos as fotos aqui para o blog e ela prontamente aceitou. <3

Confiram abaixo as fotos e também um pouquinho sobre elas e o projeto que as motivaram a fazer o ensaio “Somos sem Rótulos”.

 

Marília e eu somos amigas desde que me entendo por gente, ela sempre magérrima, alta, cabelão longo e “TOTALMENTE DENTRO DOS PADRÕES”.
Eu, sempre a gorda. A amiga de Marília gorda, a gorda da turma, a gorda do rolê, a “FORA DOS PADRÕES”…
Confesso que houve um tempo em que isso me incomodou um pouco, mas nunca deixei transparecer, achava que se eu externasse isso, as pessoas achariam que eu era realmente gorda! Vê que viagem (risos). Embora por vezes isso acontecesse, eu sempre fui muito bem resolvida com meu tamanho e com a minha beleza e pra mim, o “PADRÃO” é aquele em que cada ser humano se sente bem.
Sempre fui muito ligada a moda e Marília e eu sempre tivemos gostos parecidos (iguais), consequentemente, por inúmeras vezes saímos com a mesma roupa, ou muito parecidas.

O projeto Somos Sem Rótulos é da Débora Fernandes e assim que eu vi a primeira foto sendo postada, liguei a minha história e começamos a nutrir o desejo de expandir esse projeto tão lindo, que vem mostrando que a moda é sim para todo mundo e que não importa o seu tamanho, altura, peso ou cor da pele, o que realmente importa é o que somos de dentro pra fora!
O fotógrafo Tácio Arruda topou entrar nessa conosco e não poderia ser outra pessoa, pois ele consegue captar a energia, o que estamos sentindo e o verdadeiro significado de cada momento. A felicidade que sentimos cada vez que compartilhamos uma das fotos, e que as pessoas vem no direct compartilhar um pouquinho de suas histórias, não tem tamanho.
O nosso objetivo é levar encorajamento e empoderamento para cada mulher/pessoa que possa ser alcançada por nós., afinal, SOMOS SEM RÓTULO!

04.04.18

A vida fitness vai te adoecer

Quantas vezes já te perguntaram se você estava de dieta enquanto comia uma fruta ou almoçava salada? Aposto que todo mundo já passou por isso pelo menos uma vez na vida. Essa situação mostra um pouco do problema que é a relação feita entre saúde e estilo de vida fitness, em que as pessoas colocam hábitos saudáveis como presentes só na rotina daqueles que buscam perder peso. Essa é uma atitude muito nociva, uma vez que o que o discurso fitness incentiva, na prática, é um estilo que está longe de ser saudável. A busca por saúde e hábitos equilibrados é uma necessidade biológica, e quando nós dizemos que para que ambos sejam atingidos é preciso adotar a mentalidade fitness, estamos incentivando que pessoas embarquem nesse mundo nocivo.

Saúde é o estado de bem-estar absoluto, e ser saudável significa ter um organismo equilibrado, dentro dos limites esperados para as diversas variáveis de um corpo (idade, gênero, genética, estilo de vida, local de residência). Esse equilíbrio é imprescindível e leva em conta questões como a adequação entre alimentação, exercícios, responsabilidades familiares, estudo e trabalho, uma vez que uma pessoa saudável também é aquela que conhece as necessidades específicas do seu corpo e da sua vida e mantém um estilo de vida adequado a elas.

Ser fitness é algo bem diferente, pois significa fazer parte de uma comunidade (e portanto, de uma cultura) que tem como objetivo a busca por um corpo ideal – magro e musculoso. Esse corpo é atingido com base em duas coisas: Atividades físicas regulares e dietas alimentares específicas.

Parece normal, né? Só que não é, porque esses exercícios físicos são extremos, incluindo normalmente a dor como parte do treino; e os hábitos alimentares são rígidos e limitados, normalmente fazendo parte de uma dieta insuficiente. As pessoas que optam por tentar um estilo de vida fitness são “engolidas” para dentro de uma rede em que perfis de inspiração fit compõem o cotidiano, com fotos no espelho da academia em todos os momentos do dia, dicas de dietas e pratos restritivos, incentivo a dietas como low carb, jejum intermitente e detox. O uso de lemas que incentivam a pessoa a não desistir e atingir o limite são comuns e conhecidos – “sem dor, sem ganho” é um deles.

Hoje, é praticamente impossível tentar ter uma vida ativa e saudável sem ter contato com essa mentalidade fitness, e isso é um problema principalmente porque ela coloca o corpo ideal como maior objetivo, objetivo esse que deve ser atingido a qualquer custo. Não demora muito para que as horas na academia se multipliquem, as refeições diminuam, o suplemento entre na dieta e as situações sociais que envolvem comida passem a ser evitadas.

É fácil perceber que a ideia de saúde e de mentalidade fitness são absolutamente opostas, uma vez que para ser fitness é preciso abrir mão do equilíbrio que é absolutamente necessário pra ser saudável. A mentalidade hegemônica que a gente tem hoje alia saúde à hábitos fitness, de forma que não se concebe mais que uma pessoa possa estar em busca de saúde sem estar em busca de um corpo magro. Isso gera uma legião de pessoas que saem em busca de hábitos mais benéficos e acabam acreditando que através de uma mentalidade fitness atingirão esse estado de equilíbrio, mas o que acontece é o contrário: As dietas restritivas, os períodos de jejum, o corpo levado ao limite, o desejo por um corpo que é praticamente impossível causa um declínio na saúde mental que é tido como normal para muitos de nós. Hoje, ser uma pessoa contente com seu corpo é quase um insulto, uma aberração, pois estamos sendo moldados para estarmos sempre em busca de um suposto aperfeiçoamento físico que nunca chega e sacrifica muito.

Algumas noções da mentalidade fitness são absolutamente contra intuitivas e, ainda assim, entram na mente de milhares de pessoas: Os prejuízos do pão e do leite, os benefícios de comer apenas 2 ou 3 refeições por dia, ou até mesmo de passar longos períodos em jejum absoluto.  Pessoas que estavam apenas em busca de um colesterol equilibrado e caminhadas mais frequentes passam a conviver com grupos que as fazem acreditar que isso não é suficiente, pois a saúde só vale quanto impressa no seu corpo na forma que os outros acham ser válida. Pouco importa os seus exames e hábitos, se o seu corpo não tem o formato tido como saudável, então não é suficiente.

E assim, cada um de nós tem um biótipo, uma predisposição genética pra ter certo tamanho, certa forma. As musas fitness são pessoas com metabolismos e biótipos muito específicos que, com dieta e exercícios, realmente conseguem adquirir barriga negativa e coxas separadas, mas essa é a realidade de pouquíssimas pessoas. Só que isso não é mencionado no discurso fitness, de forma que se incentiva a ideia de que quem não consegue atingir aquele corpo ideal apenas não tentou o suficiente.

O resultado é uma vida baseada em culpa e insegurança por causa de características que são genéticas, é a busca por um corpo impossível. O resultado são milhares de pessoas psicologicamente doentes, que têm corpos perfeitos e ainda assim de odeiam.

A gente precisa entender que é possível buscar saúde sem buscar o corpo perfeito, é possível ser saudável e não ser magro. É possível buscar um equilíbrio e um corpo único, que tem tudo que precisa, que funciona, que é confortável, e que não é nada parecido com os corpos do Instagram. Não dá pra jogar a saúde mental no lixo buscando um corpo que no fim do dia não vai te felicidade real.

Eu desenvolvi esse tema em um vídeo do meu canal, que você pode assistir aqui:

 


22.03.18

Gordofobia é opressão, e eu posso provar

Gordofobia – a grande maioria das pessoas que possuem acesso à televisão ou internet já teve contato com esse conceito em algum momento, mesmo que não tenha prestado atenção. O gordoativismo vem aos poucos se articulando no Brasil e adquirindo visibilidade, mas por ser um movimento ainda em construção suas reivindicações e pautas não tiveram décadas de consolidação e aperfeiçoamento, de forma que muitas das pessoas que já ouviram falar na luta dos corpos gordos não sabem exatamente quais são nossas demandas.

Isso gera aquela confusão que estamos cansados de ouvir: A ideia de que nós lutamos pelo direito de sermos considerados bonitos. Consequência disso é a frase “gordofobia não existe”, palanque daqueles partem de uma informação errada e buscam diminuir a importância política do movimento.

Gordofobia vai muito além da estética, e para auxiliar na argumentação com as pessoas que questionam sua existência, eu reuni os fatos básicos na hora de provar que essa opressão existe e é tão real quanto machismo, racismo e LGBTfobia.

Em primeiro lugar, podemos dizer que existe “opressão” quando um determinado grupo coletivo de pessoas é institucionalmente privado dos direitos básicos e constitucionais dos cidadãos, quando existe um sistema que exclui e violenta esses grupos. Isso recai na construção de hierarquias sociais, em que um grupo adquire poder sobre o outro por deter acesso os direitos que outros não têm – e que assim se tornam privilégios. Essa opressão faz uso de estigmas que desumanizam o grupo com base na palavra de autoridades que tentam justificar essas agressões. É opressão, por exemplo, não permitir que uma mulher realize aborto em vista de uma gravidez indesejada, mas não prever nenhuma punição ao homem que escolhe abandonar esse filho antes mesmo de nascer.

Dito isso, precisamos estabelecer que o conceito de gordofobia presente no senso comum realmente não preenche os “requisitos” para se tornar uma opressão, pois ela é diariamente confundida com pressão estética. Explicando: Pressão estética é a imposição social que exige das mulheres perfeição física. Ela atua no campo individual, causa sofrimento psicológico e não pode ser mensurada.

Gordofobia não tem nada a ver com pressão estética, pois é uma violência que atinge um GRUPO de pessoas e lida com restrição de direitos básicos, e não com sofrimento pessoal. Ela atinge TODAS as pessoas gordas – mesmo que se achem lindas, mesmo que não sofram por serem gordas, mesmo que nem saibam o que essa palavra significa.

 

gordofobia existe

Por que, então, gordofobia é uma opressão? Porque ela retira das pessoas o direito ao atendimento médico no SUS, a uma disputa justa por vagas de emprego, ao uso dos transportes públicos e privados, à permanência em centenas de locais de convívio social.

A opressão dos corpos gordos na saúde fica clara quando os assentos, macas, leitos, cadeiras de rodas e equipamentos dos hospitais possuem limites de peso insuficientes. Quando uma pessoa gorda é negligenciada por seus médicos, tendo em vista apenas seu peso e as doenças que não tem, e por isso não recebe acompanhamento e tratamento adequados. Quando remédios emagrecedores e cirurgias eletivas são prescritos diariamente, apesar de todos os seus absurdos efeitos colaterais, porque ser magro “vale o sacrifício”.

 

 

gordofobia existe

Também são oprimidos os corpos gordos quando sete em cada dez empresários brasileiros os discriminam em seleções de emprego, mesmo que isso seja inconstitucional. Quando precisam “compensar” sua forma com currículos extensos, porque o setor popular que mais emprega no Brasil é o que menos contrata pessoas gordas. Quando vencem a tal “meritocracia” e passam em concursos públicos, mas tem suas vagas ameaçadas por testes de aptidão que utilizam uma medida de saúde obsoleta.

Quando se trata do direito de ir, vir e permanecer, também vemos opressão aos corpos gordos. Fazem dos assentos grandes inimigos, pois ônibus, trens, aviões, salas de aula, salas de cinema, bares, restaurantes fazem questão de não comportar corpos maiores. Se precisarem utilizar o transporte público, são humilhados por catracas que entalam e geram hematomas. As pessoas em cadeiras de rodas entendem – os banheiros e portas do dia a dia não foram feitos para comportarem corpos diferentes. Enquanto pessoas de manequim 44 sentem dificuldade em escolher uma peça de roupa diante de tantas opções, aquelas que vestem 60 contam nos dedos as lojas em que conseguem achar peças que sirvam.

 

Digo com extrema sinceridade que gostaria muito que meu problema fosse apenas beleza. Gostaria muito que, ao sair de casa de manhã, a qualidade do meu look fosse a maior preocupação na minha cabeça, mas infelizmente não é. Eu estou preocupada com o preparo psicológico para a negligência médica que vou sofrer semana que vem, com as dores de assistir uma aula sentada em uma cadeira que não me cabe, com o trabalho extra que vou ter para provar ao meu chefe que não sou preguiçosa e desleixada como ele espera que eu seja, com a minha bolsa que ficará no corredor do banheiro público pois não cabe junto comigo dentro do box.

Beleza e autoestima poderiam ser os maiores problemas que pessoas gordas enfrentam, mas não são. A patologização é. A estigmatização é. A retirada dos direitos de ir, vir e permanecer; de atendimento médico decente; de possibilidade de sustento financeiro; a retirada do direito ao respeito é o nosso problema.

E não é só isso: A patologização e estigmatização dos nossos corpos é diária e ferrenha, justificada por autoridades fraudulentas, e esse assunto é longo demais para ser conversado em apenas um post – por isso eu fiz um vídeo. Eu e a Carine Martins rebatemos algumas pessoas que não acreditam na existência da gordofobia e provamos que ela existe, e precisa ser combatida.

 

 

01.03.18

Será que o plus size serve pra gorda?

O gordoativismo é um movimento social que cresce e se consolida diariamente. Uma das reivindicações mais urgentes que fazemos é a da acessibilidade, o direito a tudo que é necessário para nosso acesso e permanência em sociedade. O que muitos esquecem é que existe algo que vem antes das catracas e das cadeiras: A roupa. Não podemos ir a lugar algum se não estivermos vestidos, e quando se é uma pessoa gorda cujo manequim vai além do 54, essa dor de cabeça toma proporções que jamais seriam imaginadas por uma pessoa magra.

Mesmo que a indústria de moda plus size brasileira tenha crescido muito nos últimos 5 anos fazendo uso da bandeira de democratização da beleza, é um fato que a parcela de consumidoras que mais precisa se beneficiar desse nicho de mercado segue sendo ignorada. Aquelas pessoas que chamamos de gordos maiores, que sofrem muito mais o peso da gordofobia, também enfrentam a falta de peças de roupas fabricadas em seus tamanhos. E se analisarmos como vem se desenhando essa indústria, isso não é surpresa.

Existe hoje algo que eu chamo de padrão plus size, um ideal de “corpo gordo” higienizado e padronizado, que encontramos nas modelos utilizadas na maioria das lojas que dizem vender roupas para gordos. Esse corpo tem seios e quadris grandes, mas permanece com barriga, braços e rosto pequenos, além de uma surreal cinturinha. Ele existe para atender as regras de uma sociedade que, buscando vender um produto, precisa que ele não ameace as suas estruturas fundamentais – nesse caso, a gordofobia e o machismo. Assim, a moda plus size se tornou um meio de segregar as gordas bonitas e “aceitáveis” daquelas que ainda são consideradas excessivas demais para terem seus direitos atendidos.

Olha que legal! Um bando de modelo plus size sem barriga na campanha da marca Slink que diz para as mulheres amarem seus corpos como são.

 

As imagens das modelos na maioria das vezes ainda contam com um excesso desnecessário de edição. 

Como resultado desse problema, temos um mercado plus size que nos oferece peças com tamanhos limitados, preços altíssimos, modelos quase magras e difícil acesso, além de pouca visibilidade midiática para as marcas pequenas que querem fugir dessa regra. Mesmo que tenhamos várias marcas de roupas plus size, a maioria delas trabalha com tamanhos insuficientes. É comum vermos novas lojas abrindo com peças até o tamanho 54, enquanto
aqueles que vestem 58, 60, 62 ou mais permanecem precisando viver com apenas 2 ou 3 lojas disponíveis. Além disso, os preços vão muito além do necessário para custear a maior quantidade de tecido e linha, sendo normal encontramos liquidações plus size em que o produto mais barato custa 70 reais. Como se já não fosse dificuldade suficiente, descobrimos ainda que a maior parte do mercado plus size se encontra na internet, dificultando o acesso de quem não sabe ou não pode comprar online. E das modelos nem se fala: Sendo magras curvilíneas ou
gordas bem pequenas, fazem com que as consumidoras maiores tenham muita dificuldade na hora de imaginarem em seus corpos as roupas que vão comprar. Isso significa o que? Muito dinheiro gasto trocas de peças que não serviram.

Mesmo que sejam menos conhecidas e valorizadas pela mídia, podemos respirar mais aliviados com as poucas marcas que tentam fugir desse padrão e criar uma indústria plus size que realmente representa a atende os corpos gordos. Lojas como Lollaboo, Zuya, Rainha Nagô, FALA e F.A.T. produzem peças em tamanhos mais abrangentes e campanhas com modelos verdadeiramente gordas, como Bia Gremion. As peças permanecem mais caras que aquelas vistas em araras magras, mas são tranquilamente justificadas pelo alto custo da produção independente.

 

plus size serve pra gorda

A Rainha Nagô usa em suas campanhas modelos, clientes e até mesmo seus proprietários.

 

plus size serve pra gorda

Modelos em campanha da Lollaboo.

São os esforços dessas pequenas empreendedoras que dão a certeza de que não, não estamos exigindo demais. É possível existir um nicho de moda acessível, abrangente e honesto, mas para que isso tome forma é preciso que as marcas plus size que permanecem nesse padrão insuficiente saibam que os consumidores percebem e desaprovam. Precisamos exigir, reivindicar, fazer com que as grandes e médias marcas enxerguem e valorizem as consumidoras
gordas que exigem dignidade na hora de se vestir. E como fazemos isso? Dando prioridade aos pequenos produtores e demonstrando sempre que possível a nossa insatisfação. O exemplo da Ashua, linha plus size da Renner que aumentou sua grade de tamanhos após uma estreia que gerou centenas de reclamações, nos prova que para lucrar essas empresas precisam de nós e, por isso, vão ter que nos ouvir.

Escolhi falar justamente dos problemas da moda plus size na estreia do meu canal no youtube. Por sentir falta de conteúdo objetivo e útil ao gordoativismo em forma de vídeo, resolvi botar a mão na massa e fazer eu mesma um canal que fale sobre a política e a realidade do corpo gordo.

Caso queiram saber mais sobre esses e outros assuntos, assistam o vídeo e se inscrevam no canal pra não perder os próximos. 😊