Os dois estudantes suspeitos de criar, difundir e incentivar o “rodeio de gordas”, que consistia em agarrar e montar em alunas obesas durante os jogos entre alunos da Unesp, no mês passado em Araraquara, no interior de São Paulo, foram ouvidos na manhã desta terça-feira (9) pela comissão que integra a sindicância da Universidade Estadual Paulista.
A diretoria da Faculdade de Ciências e Letras do Campus de Assis instaurou em 26 de outubro processo administrativo disciplinar contra os dois estudantes, também de Assis, após denúncias de bullying a universitárias consideradas acima do peso. Elas foram agredidas e humilhadas entre os dias 9 e 12 de outubro no Interunesp. Um aluno do curso de engenharia biotecnológica e um de ciências biológicas são citados pela Unesp suspeitos de criar a “brincadeira”. Eles são suspeitos de criar a comunidade “Rodeio de Gorda Araraquara 2010” no Orkut.
Segundo relatos, no “rodeio das gordas”, alunos se aproximavam das garotas fazendo perguntas, como se fossem paquerá-las. Depois, agarravam as garotas, de preferência obesas, e tentavam ficar sobre elas o máximo de tempo possível, como se estivessem em um rodeio. Ao menos 50 estudantes participaram do “jogo”.
Os agressores usaram a comunidade no Orkut para incentivar que os estudantes cronometrassem o tempo que mantinham a garota presa e para sugerir premiações para quem ficasse mais tempo sobre a menina. Há relatos de que os estudantes gritavam, dizendo “pula, gorda bandida”.
A assessoria de imprensa da Unesp diz que os dois alunos foram ouvidos, mas não dá detalhes do depoimento deles. A universidade, informa, no entanto, que nenhuma decisão foi tomada ainda. Em nota, a Unesp informa que “decidiu instaurar processo disciplinar para que sejam tomadas as medidas cabíveis em relação a fatos que teriam envolvido membros de seu corpo discente em jogos organizados por entidades estudantis”. “A medida será oficializada ainda nesta semana, com a colaboração da Assessoria Jurídica da Reitoria.”
A Unesp afirma ainda na mesma nota que “repudia práticas de desrespeito entre membros de sua comunidade, mas, a fim de assegurar o cumprimento da lei e das disposições do Estatuto da Universidade, inclusive no que se refere à preservação do direito de defesa dos envolvidos, a Administração não se pronuncia sobre procedimentos administrativos desse tipo durante o andamento de seus trabalhos”.
No caso de uma eventual punição aos alunos, eles podem ser advertidos, suspensos ou até expulsos da instituição.
Ministério PúblicoO Ministério Público e a Polícia Civil em Araraquara também investigam o caso. Eles receberam a denúncia do “rodeio” por meio de cópias do site de relacionamentos, que atualmente saiu do ar, e com uma matéria de jornal sobre o jogo.
Procurada para comentar o assunto, a promotora Noemi Corrêa, informou por e-mail que o Ministério Público instaurou inquérito civil para apurar a responsabilidade da Unesp e da Liga Interunesp nos fatos. “A prática denominada Rodeio das Gordas caracteriza uma violação dos Direitos Humanos, ante o preconceito com relação às pessoas que não se enquadram no padrão de peso imposto pela mídia e pela sociedade”, disse a promotora.
“Estamos ainda na fase de investigação, tentando localizar alunos que participaram e alunas vítimas”, informou a promotora Noemi. A Promotoria poderá decidir se a investigação resultará num termo de ajustamento de conduta, numa ação civil pública ou no arquivamento.
Além disso, há um inquérito policial instaurado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) para apurar a conduta criminosa, que caracteriza a prática, por exemplo, de constrangimento ilegal, injúria e vias de fato.
Por telefone, o delegado Jesus Nazaré Romão, da DIG, afirmou ao G1 que vai ouvir os dois alunos citados pela Unesp na sindicância. “Por enquanto, eles são os únicos suspeitos e vou pedir para ouvi-los”, disse Romão.
Romão também apura crime de ato obsceno cometido nos mesmos jogos. Imagens do evento feitas por telefones celulares e postadas na internet mostram alunas enfileiradas baixando calças, shorts e saias. As jovens ficam de calcinhas, algumas sem, rebolando e exibindo o corpo. Outros alunos filmam a cena, que se repete ao som de uma bateria e na contagem regressiva de 10 a 1.
As gravações foram feitas dentro de um ginásio de esportes em Araraquara e mostram uma espécie de “bunda-lê-lê”. Nos títulos dos vídeos hospedados no Youtube, eles são batizados de “bundão”.
Vítimas
A advogada Fernanda Nigro, da organização não-governamental de direitos humanos Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Sexualidade (Neps), que acompanha o caso, diz ter identificado duas alunas vítimas do “rodeio das gordas”. Uma é estudante do curso de letras e outra de psicologia no campus da Unesp em Assis.
“Elas estão com medo. Estou conversando com elas para elas falarem”, afirma Fernanda, que irá perguntar às universitárias se elas pretendem mover alguma ação por dano moral contra os agressores. “O número de vítimas pode aumentar.”
fonte G1
Se ficarmos caladas isso não vai dar em nada, precisamos fazer barulho e incentivar essas meninas a falar. Meu Deus eu também passei por isso, não na mesma ocasião, hoje acho isso tudo horrível e nojento. Se fosse agora eu iria falar aos sete ventos, pra isso não acontecer com mais ninguém. Mas eu entendo o medo delas.
Se nós ajudarmos aposto que essa historia vai terminar com final feliz, para nós.